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unidades, torna o horário para treino físico muito A receita para esta fórmula de sucesso já exis-
incerto, muitas vezes até impossível, interferindo tiu, sendo agora altura de recuperar. Refiro-me a
no planeamento do treino de alto rendimento, algo transversal a toda a estrutura e que produza
prejudicando-o. Também os ciclos operacionais impacto desde os recém-ingressados às mais al-
de treino, exercícios e serviços diários, caracterís- tas estruturas de comando onde reside a autori-
ticos da nossa instituição, afetam negativamente dade para alavancar a mudança!
o treino e a disponibilidade física e horária dos Só depois do reconhecimento da importância
atletas durante estes períodos, podendo com- do desporto militar em geral, e dos atletas-mi-
prometer a preparação de momentos-chave da litares em particular, é que fará sentido pensar-
época. -se em condições de treino, preparação física e
A principal limitação prende-se com a falta de recuperação muscular, adequação de horário e
cultura desportiva dentro da instituição, sobretu- dos serviços diários. Mas para garantir tais con-
do de reconhecimento e valorização dos atletas. dições e sermos efetivamente melhores, há que
Infelizmente, esse trabalho não tem sido feito e ter infraestruturas desportivas, médicas e de in-
os atletas continuam esquecidos, desapoiados, vestigação, tais como pistas de atletismo e giná-
por vezes até prejudicados e sem qualquer plano sios adequadas ao alto-rendimento. Infelizmente
a longo prazo que os potencie. Ainda se confunde essas infraestruturas tendem a não existir, pelo
muito a prática de treino físico militar com o treino menos em condições adequadas ao alto-ren-
orientado para a competição, neste caso especí- dimento. O desinteresse pelo desporto de alta
fico, a corrida, não havendo uma visão clara de competição levou também à perda do conheci-
todo o trabalho desenvolvido pelos atletas, para mento técnico e científico nesta matéria, nomea-
se alcançarem resultados de relevo. damente em relação à sociedade civil.
Continuamos muito longe dessa realidade, em- Face a estas condicionantes, penso que a de-
bora o desporto devesse ser um dos pilares mais sejada mudança, a curto e médio prazo, teria
importantes da nossa instituição, derivando do de passar por parcerias com diversas entida-
treino físico militar e sobressaindo os melhores e des civis, com o objetivo de garantir as melho-
mais capazes por forma a dignificar o Exército e a res condições aos atletas-militares e atualiza-
sua formação! ção cientifico-desportiva da instituição militar.
Saliento que temos no seio do Exército dezenas
O que identifica ser necessário o Exército de excelentes atletas, muitos deles com carrei-
fazer ainda mais, para que os militares pos- ras de elevado destaque a nível nacional, sendo
sam ser realmente atletas-militares? a totalidade destes orientada por equipas civis, as
RL Partindo da resposta à questão anterior, julgo quais representam nas instituições.
que o Exército tem um enorme potencial, mas um Considero que não é difícil uma instituição com a
longo e difícil trabalho a percorrer, que começa dimensão do Exército, a longo prazo, equiparar-se
desde logo pela mudança das mentalidades e a a estas equipas civis e concentrar toda a quali-
aculturação desportiva nas fileiras. dade existente numa super-equipa a nível nacio-
nal. Olhemos para o exemplo dos Campeonatos
Será necessário refletir sobre o de- Desportivos Militares, tantas vezes esquecidos
clínio do Desporto Militar nos últi- ou menosprezados, mas que reúnem centenas
mos vinte anos, altura até à qual se de atletas, das Forças Armadas e de Segurança,
demarcou como uma referência para numa competição anual que a nível de qualidade
a sociedade civil, tendo nas suas dos atletas na linha de partida, arrisco-me a dizer,
fileiras atletas-militares que inte- ser das melhores provas realizadas anualmente
gravam a elite desportiva nacional.
em Portugal!