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Atualidades .17
OPINIÃO
e preservar o seu potencial (de combate), numa
altura em que era desconhecido o que poderia vir
O Exército tem, entre as FA e as Forças
a ser pedido ao País e às suas FA, em particular. “
Mas o Exército é uma instituição de ação. A pan- e Serviços de Segurança, a peculiaridade
demia veio reforçar a atenção à vertente de apoio
civil, em linguagem doutrinária do Exército, ou de ser o ramo que organicamente
de apoio ao desenvolvimento e bem-estar das detém a maior capacidade de, no meio
populações, na terminologia oficial das missões
das FA. Ajustada numa forma sistemática após os das pessoas e em larga escala, poder
incêndios de 2017, esta vertente impôs, desde aí, destruir e matar, mas também poder
um comprometimento total dos meios terrestres construir e edificar, curar e salvar.”
nas missões de apoio militar de emergência nos
meses de verão, suspendendo todo o treino ope- [Cor Cav Miguel Freire]
racional, exceção do necessário ao aprontamen-
to das Forças Nacionais Destacadas, mas mesmo
este sempre condicionado à severidade dos fo-
gos.
Nesta pandemia as Unidades do Exército, pela Esta pandemia revelou-nos, à semelhança de
sua dispersão geográfica, permitiram criar uma outros eventos disruptivos como a queda do Muro
rede de apoios de retaguarda, inclusive de Cen- de Berlim, o 11 de Setembro ou o tsunami de
tros de Acolhimento para suspeitos ou infetados 2004, que toda a ciência e conhecimento que pos-
que felizmente – até à data – não houve necessi- suímos não nos impede de sermos surpreendidos
dade de serem ativados. Tratou-se, como era de pela natureza e pela essência do Homem. Não es-
esperar, de um apoio de retaguarda e longe da taremos nunca preparados para as surpresas que
frente de combate materializada pelas estruturas nos possam surgir. Apenas uma extraordinária ca-
de saúde do Serviço Nacional de Saúde e do setor pacidade de adaptação e flexibilidade para ajustar
privado. recursos humanos, materiais e conhecimento nos
poderão tranquilizar para um futuro incerto dita-
do pelas relações entre Estados e entre o Homem
e a natureza.
A pandemia COVID-19 não nos deve fazer crer
que todo o esforço daqui em diante terá de ser fo-
cado apenas neste cenário. Amanhã será outro,
tão ou mais surpreendente quanto a nossa desa-
tenção à história da humanidade quiser.
O Exército tem, entre as FA e as Forças e Ser-
viços de Segurança, a peculiaridade de ser o ramo
que organicamente detém a maior capacidade de,
no meio das pessoas e em larga escala, poder des-
truir e matar, mas também poder construir e edi-
ficar, curar e salvar.
A incerteza requer que todas estas capacidades
tenham a atenção do Estado de forma equilibrada
e prospetiva. O que hoje se descura pode ser o ne-
cessário à adaptação do amanhã. JE
JE 698 – ABR20