Page 43 - JE708
P. 43
+
Cultura & Lazer .43
.43
Cultura & Lazer
UMA VISÃO DA HISTÓRIA
“
Ambos estivemos mesmo à beira
de ir para o outro mundo...
E, naquele dia, nasci de novo…”
[José António Fernandes Costa]
Enquanto estive em Nangololo praticamen-
te não saía do aquartelamento. Apenas para
ajudar a fazer a segurança a colunas que vi-
nham de ou iam para Mueda. Participei, tam-
bém, em duas ou três saídas noturnas para pa-
trulhamentos direcionados a aldeias próximas. Tadeu Mandumbwe com 7 ou 8 anos
Connosco estavam imensos nativos da etnia
maconde que colaboravam com a nossa tropa.
Sempre verifiquei que todos eram amáveis e
dedicados às suas ocupações.
A Companhia de Comando e Serviços (CCS)
do Batalhão de Caçadores n.° 1937, a que eu
pertencia, com a especialidade de Sapador de
Infantaria, no âmbito das minas e armadilhas,
também apoiou um rapazinho maconde, na al-
tura de 7 ou 8 anos, o Tadeu Mandumbwe, que
foi encontrado por paraquedistas nossos, so-
zinho, numa aldeia abandonada. Só se separa-
ram quando o Batalhão deixou Lourenço Mar-
ques (Maputo), para regressar à metrópole.
O Tadeu conseguiu estudar e, hoje, é dire-
tor do Departamento de Agricultura e Pescas,
sediado em Nacala. De vez em quando, vem
a Portugal, em serviço, e sempre que as suas
vindas coincidem com os convívios anuais da
CCS ele também participa neles. A última vez
que nos vimos foi em maio de 2018.
A memória amarga, que muito mudou o
meu decurso de vida dali em diante, remonta a O autor em Nangololo
24 de março de 1968, um lindo domingo, cheio
de sol. Na manhã desse dia, cerca das 10 horas, Nangololo (que tinha sido uma missão católica
fui atirado ao ar com a força da explosão de até ao início da guerra, em 1964), no chamado
uma granada-armadilha, que se encontrava no planalto dos Macondes, a cerca de 38 quilóme-
perímetro de segurança do aquartelamento de tros de Mueda, no norte de Moçambique
JE
JE 708– ABR21 708 – ABR21
JE_Abr21.indb 43 26/07/2021 15:35:59