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Atualidades .25
FND
“Hoje, um governo português
Ponto de Viragem “
Partilhamos a opinião de que houve no Exér-
cito Português, claramente, um antes e um de- quando decide sobre o
pois da Bósnia, em 1996. Não se julgue que esta empenhamento militar no
situação foi um exclusivo nacional. O Teatro de estrangeiro pode ter dúvidas perante
Operações da ex-Jugoslávia, quer com as opera-
ções da ONU quer da NATO, assim o determinou o custo financeiro e preocupa-
para vários países. Foi um autêntico laboratório se, naturalmente, com os riscos e
para desenvolvimento de doutrina e serviria de
modelo sempre aperfeiçoado nas operações que potenciais baixas, mas não duvida das
se seguiram. Também em Portugal, quer ao ní- capacidades que os chefes militares
vel do Estado-Maior-General das Forças Armadas lhes apresentam. Há um caminho
quer dos ramos e muito em especial no Exército,
pelo volume de tarefas cumpridas e de efetivos percorrido que fala por eles.”
empenhados.
Muito do que foi feito para empenhar Forças rios políticos da NATO e UE estavam e estão con-
nas missões posteriores a 1996 nasceu nos me- tra todas as missões militares neste âmbito.
ses que antecederam esta missão, depois no seu As sombras da Guerra do Ultramar, terminada
desenrolar e, sobretudo, no seu rescaldo. Do con- então há 20 anos, com os seus mortos e estropia-
selho militar e decisão política aos procedimen- dos, estavam vivas em largos sectores da popula-
tos administrativos e logísticos, da preparação ção, no panorama político-partidário e, mesmo,
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da Força às orientações para lidar com os órgãos em meios militares.
de comunicação social e a novos equipamentos A inércia própria de um Exército há 20 anos
e materiais, tudo temperado pelas experiências acomodado a rotinas desmotivadoras para o seu
no terreno, quer dos êxitos quer dos falhanços, pessoal, de exercícios e planeamentos sem exe-
daqui nasceu um Exército diferente, que nas mis- cução real, ia mesmo ser alterada.
sões seguintes foi evoluindo, quase e sempre me- A decisão política foi definitiva depois da to-
lhorando. mada de posse, a 28 de outubro de 1995, do XIII
Hoje, um governo português quando decide Governo Constitucional.
sobre o empenhamento militar no estrangeiro
pode ter dúvidas perante o custo financeiro e Rumo à Bósnia, agora É a Sério!
preocupa-se, naturalmente, com os riscos e po- Portugal participou nesta missão, a partir de ja-
tenciais baixas, mas não duvida das capacidades neiro de 1996, com uma Força assim constituída:
que os chefes militares lhes apresentam. Há um > Destacamento de Ligação (DL) às estru-
caminho percorrido que fala por eles. turas multinacionais: Brigada Multinacional
Sarajevo-Norte; Divisão Multinacional Sudeste;
Para a Bósnia e Herzegovina e em Comando da Implementation Force (IFOR); com
Força?
O envolvimento militar português na Bósnia
“...Tratou-se de uma decisão particularmente difícil, na medida em que representou
foi muito discutido no espaço público. Simplifi- 1 um regresso das Forças Armadas portuguesas a um Teatro de Operações europeu, donde
cando, podemos dizer que à direita se defendia havíamos estado ausentes desde a I Guerra Mundial e cuja memória coletiva não pode
a prioridade do esforço militar português no es- ser tida como muito favorável. Mas foi uma decisão propiciada pela consciência profunda
trangeiro na África lusófona; à esquerda olhava- de que a pertença a uma Aliança determina não apenas direitos de solidariedade, mas
também deveres de partilha de responsabilidades e de riscos, uns e outros faces da mesma
-se como uma possibilidade real a intervenção moeda...”. Vitorino, António, “Nos Cinquenta Anos da NATO: Algumas Reflexões sobre a
militar na Europa/Balcãs. Os comunistas adversá- Operação de Paz na Bósnia-Herzegovina”, Nação e Defesa, n. 92 – 2. Série, 2000, Lisboa.
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