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44. Cultura & Lazer
do pensamento português, como um polo irradiador de A Academia das Ciências surge sob o impulso do
conhecimento e de intervenção nas ciências, nas artes, Duque de Lafões e do Abade Correia da Serra (José
na literatura, mas também na agricultura e no comér- Francisco Correia da Serra, 1750-1823, cientista, filóso-
cio. fo e diplomata, mais tarde nomeado secretário perpé-
A Academia das Ciências surge assim integrada no tuo da Academia), duas figuras ímpares do Iluminismo
contexto cultural europeu e em sintonia com as linhas português , fortemente influenciadas pelo pensamento
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programáticas delineadas por instituições congéneres europeu contemporâneo (ambos viveram longos pe-
e plasmadas nas suas publicações, através das quais ríodos fora de Portugal e contactaram de perto com os
se foi difundindo o conhecimento científico e literá- círculos culturais estrangeiros). O duque de Lafões foi o
rio e onde se foi igualmente refletindo a atividade das ideólogo da Academia das Ciências, mas também quem
comissões técnico-científicas. Integrou inicialmente as criou as condições materiais e a viabilidade política do
classes de Ciências Naturais (“Sciencias de Observa- projeto. Adiante debruçar-nos-emos sobre a sua vida e
ção”), de Ciências Exatas (“Sciencias de Cálculo”) e de personalidade e sua ligação à Academia.
Belas-Letras, tendo adotado como lema a divisa latina Esta tem desempenhado um importante papel de
Nisi utile est quod facimus stulta est gloria (Se não for apoio à Ciência em Portugal, através da consagração
útil o que fizermos a glória será vã). A sua organização de prémios a trabalhos científicos e da publicação de
interna vai manter-se, no essencial, após a implantação artigos e coleções dedicados a diversas áreas científicas.
da República, em 1910, quando assume a designação de Merecem aqui menção os volumes das Memórias, que
Academia das Ciências de Lisboa. representam um contributo importante para a histó-
ria das ciências e das letras em Portugal, traduzindo o
pensamento científico e contribuindo para o desenvol-
vimento cultural do País.
A Academia propôs-se, desde o início, contribuir
para o ensino, mormente o ensino das ciências, para o
que foram criadas múltiplas infraestruturas, designa-
damente o Observatório Astronómico, o Gabinete de
História Natural, o Gabinete de Física, o Laboratório
de Química, etc. Em1792 integrou também o Museu
de História Natural, fundado pelo padre e naturalista
José Mayne (1723-1792) que ali deu origem ao extinto
Instituto Maynense e, em 1836, o Museu de História
Natural da Ajuda.
Estes museus integravam um valioso espólio zooló-
gico e mineralógico (muito dele oriundo de longínquas
paragens, da América à Ásia), que ainda hoje existe e
serviu de apoio às aulas de história natural que a Aca-
demia ministrava durante o século XIX, além das aulas
de física e de química. Integra esse núcleo histórico
uma importante biblioteca, de origem conventual, que
conserva exemplares raros de obras científicas e histó-
ricas, entre os quais uma cópia da Chronica Geral de
Hespanha, mandada copiar por D. Duarte em 1420.
A Academia vem dando importantes contributos
para a Ciência em Portugal, ao longo da sua histó-
ria, constituindo-se como instituição de referência e
D. João Carlos de Bragança órgão de consulta para questões científicas. São dignos