Page 475 - recrutamento
P. 475

12. A Guerra em África (1961-1974) – Recrutamento e Mobilização
                  das Tropas Portuguesas

                     Em cada um dos teatros de operações, a presença das tropas locais foi
               aumentando ao longo da guerra, sobretudo a partir da altura em que passou a
               ser seguido o objetivo de “africanização da guerra”, tendo a percentagem mais
               elevada sido atingida em 1973. O peso relativo do recrutamento local em cada
               uma das frentes, era muito diferente, pois enquanto que em Angola a média
               de efetivos do recrutamento local foi de 32,8 %, na Guiné foi apenas de 15,7
               % e em Moçambique foi onde a presença de tropas locais foi mais expressiva,
               com uma média de 43,2 %, tendo ultrapassado os 50% entre 1971 e 1973.
                     O designado processo de “africanização da guerra” começou em 1966
               em  Angola,  mas  foi  em  1968,  com  o  governo  de  Marcelo  Caetano,  que  o
               aparelho militar passou a recorrer mais aos homens do recrutamento local,
               sobretudo  em  unidades  especiais.  Era  a  aplicação  da  “teoria  do  mesmo
               elemento” para combater a guerrilha com mais eficácia, recorrendo a tropas
               negras,  adaptados  ao  clima  e  ao  terreno;  mas  era  também  a  nova  política
               militar marcelista, mais descentralizada, quando Lisboa passou a dar alguma
               autonomia aos comandantes locais, como se verificou com António de Spínola
               (Guiné 1968) e Costa Gomes (Angola 1970). Em Moçambique, o processo foi
               mais demorado porque o general Kaúlza de Arriaga mantinha uma visão mais
               conservadora, evitando a criação de unidades autónomas de africanos, com
               receio destes poderem, posteriormente, integrar os movimentos de libertação.
               Este  processo  foi  distinto  em  cada  uma  das  frentes,  pois  que  enquanto  na
               Guiné  os  locais  serviam  em  unidades  militares  enquadrados  pelo  Exército,
               em Angola foram criadas unidades de vários tipos, algumas enquadradas pela
               PIDE (os Tropas Especiais, os Flechas, os Fiéis e os Leais) fora do âmbito militar
               e  outras  como  os  Grupos  Especiais  (GE)  integrados  em  unidades  militares.
               Em Moçambique, onde a percentagem de tropas locais foi maior, o modelo
               praticado era uma combinação dos dois anteriores.

                     Em  Angola,  em  1966,  foram  criados  os  “Tropas  Especiais”  no  seio
               da PIDE, quando o dissidente da UPA/FNLA, Alexandre Taty se passou para
               o lado português com 1200 homens. Estes “TE” operaram em Cabinda, no
               Zaire e no Uíge (norte de Angola) e mais tarde na frente Leste como força
               privativa da PIDE, liderados pelo inspetor Óscar Cardoso, que começou com
               os bosquímanos em Cuando Cubango, e depois também com os “Flechas” no
               Luso e em Luanda Caxito, usados como pisteiros e elementos de informações.
               Os  “Flechas”,  no  Caxito,  eram  quase  todos  dissidentes  do  MPLA  e,  na  fase

                                                                                  463
   470   471   472   473   474   475   476   477   478   479   480