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Cultura & Lazer
UMA VISÃO DA HISTÓRIA
o Plano Geral das Obras, Novas e de Ampliação monumentalidade, que o Estado Novo aproveitou
e de Adaptação, a Realizar em Quartéis e Outras para a sua exaltação, interna e externa. Poucos
Instalações da Organização Territorial do Exército. dias depois da entrega do quartel do Viso, a 27 de
Neste vasto e ambicioso plano de construções setembro de 1950, antes mesmo da transferência
previa-se a construção de 23 novos quartéis e a do Regimento de Infantaria n.º 6 para a sua nova
ampliação de 39 dos existentes, para substituir e casa estar completa, o aquartelamento recebeu al-
melhorar antigos conventos e quartéis que, pela tos dignitários. O Presidente do Conselho, Oliveira
sua antiguidade, já se encontravam desajustados Salazar, quis dá-lo a conhecer ao General Franco,
à realidade da época. Chefe de Estado de Espanha, durante uma visita
Os trabalhos começaram por estar entregues à deste ao Porto.
Comissão Administrativa das Novas Instalações Três princípios nortearam a conceção dos CANI-
para o Exército (CANIE), criada no seio do Minis- FA: o quartel era “uma grande residência coletiva”
tério das Obras Públicas e Comunicações e foram e “um centro de instrução geral e especial e de
progressivamente executados sem que, no entan- cultura física” e deveria ser “fundamentalmente
to, todas as obras planeadas tivessem chegado a uma casa de educação social e cívica”. Com uma
ser concretizadas. Na realidade só treze novos linha arquitetónica representativa do regime então
quartéis acabaram por ser construídos. A maioria vigente, mesmo na fase mais vanguardista, a sua
(onze), ainda, no tempo da CANIE, pois a CANIFA construção assentou num modelo previamente
só foi criada a 21 de dezembro de 1961, absorvendo
as competências e trabalhos da CANIE e da sua
homónima da Marinha, a CANIM.
Ao quartel do Porto seguiram-se os de Viseu
(1951), de Vila Real (1952) e das Caldas da Rainha
(1953). Após um interregno de um ano, em 1955
ficaram prontos quatro quartéis, os de Leiria,
Abrantes, Braga e Amadora, aos quais se juntou
Beja, logo no ano a seguir. Um novo interregno
aconteceu, quebrado em 1958 com o quartel de
Chaves. O de Lisboa surge só em 1961 e nele já se
vislumbra novos traços, que se tornam evidentes
no seguinte, o de Tomar (1964) e no, já tardio,
do Funchal . São disso exemplo: uma arquitetura
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mais vanguardista, por oposição a uma mais tra-
dicional de “feição mais portuguesa” e que “não
lembrasse senão a nossa terra”, e a opção por ali-
nhar as casernas apenas de um dos lados da parada
e não em seu redor de forma simétrica e pela sua
edificação em altura, que nos três últimos quartéis Pelo caminho,
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passa a ser regra e não apenas exceção. não passando
da fase de
A sobriedade estética, porém, sempre impe- estudos, ficaram
rou, do princípio ao fim. Ainda que, por vezes, a os quartéis
previstos para
presença de elementos escultóricos e de torres de Bragança, Castelo
Branco, Covilhã,
relógio nas fachadas dos edifícios de Comando, Guimarães, Anteprojeto do quartel-tipo que serviu de base
bem como de grandes escadarias e amplos espa- Lamego, Ponta à construção de todos os quartéis CANIFA
Delgada e
ços cerimoniais exteriores confiram aos CANIFA Setúbal. Fonte: PT AHM/FO/6/6/686/28
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