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   44.          Cultura & Lazer










            Afinal, diante dos castelhanos estava a segunda cida-    tinha levado os castelhanos a não esperarem o ataque
            de do Alentejo; a primeira da fronteira, a apenas três   naquela ocasião e a remeterem-se aos seus quartéis,
            léguas de Badajoz, sua arquirrival, e, acima de tudo, a   deixando as Linhas fracamente guarnecidas. Quando
            principal fortificação do País, pois, em 1658, Elvas já se   os portugueses investiram quebraram a pouca resistên-
            achava muralhada conforme os modernos preceitos da       cia que encontraram e abriram uma brecha nas Linhas
            arte da fortificação do século XVII, com cortinas, balu-  e por aí irromperam com ímpeto em direção à cidade
            artes e meio-baluartes, revelins e meias-luas, estando,   e ao resto das Linhas, sendo então acometidos pela
            ainda, cercada por um largo e fundo fosso. Em seu        cavalaria inimiga.
            benefício, contava também com: a sua localização no
            cimo de um outeiro, vizinho de um profundo vale, que     As Linhas castelhanas, com os seus fortins e quartéis, em torno de Elvas,
            lhe conferia supremacia sobre o atacante; a edificação   controlando os acessos à Praça e o ataque português no sítio dos Murtais.
            das suas defesas num solo de natureza rochosa, o que
            dificultava os aproches ; a sinuosidade do seu traçado
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            que facilitava a sua defesa, pelos múltiplos ângulos de
            fogo; o que tudo junto já a tornavam também numa
            das mais fortes e extraordinárias Praças da Europa.
               Por isso, e porque o efetivo inimigo não era sufi-
            cientemente numeroso para com sucesso acometer
            Elvas, os castelhanos, até ao dia da batalha, apenas se
            tinham limitado a tentar impedir as comunicações
            com a Praça e a bombardeá-la, contínua e intensamen-
            te, esperando com isso e também pela fome quebrar
            a sua resistência e obter uma rendição. Porém, não o
            tinham conseguido fazer, apesar da doença que gras-
            sava entre a guarnição e população, que foi afinal o
            que mais afligiu os sitiados e causou maior número de
            vítimas.
               Como nos narra o cronista, Elvas estava num
            miserável estado, pois mais parecia um hospital que
            uma povoação, com tantos enfermos no interior das
            suas muralhas e os sãos, enfraquecidos pelo longo
            sítio, necessitavam urgentemente de descanso. A Praça
            tinha falta de mantimentos, mas, em contrapartida, o
            Trem de artilharia, as tendas e demais dependências
            do Exército, bem como boa parte dos principais cabos
            de guerra e muitos militares estavam lá concentrados,
            desde o gorado sítio a Badajoz, no verão de 1658. To-
            dos juntos ascenderiam a 5000 a 6000 infantes e a mais
            de 1500 cavaleiros. Elvas era por tudo isto um alvo
            muito apetecível.
               Mas a esperança e determinação castelhanas em
            a conquistar estavam agora prestes a esfumarem-se.
            Dissipado o nevoeiro, pelas nove horas, o assalto às
            Linhas teve início, com fogo de artilharia do exército
            e da Praça sobre o inimigo. Um prévio e grave erro
            no reconhecimento feito às posições portuguesas,
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