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Foi em grande parte este dispositivo tático o respon - no Buçaco contribuiu definitivamente para a libertação
sável pela retumbante vitória aliada, tendo-se notabili- do Território Nacional face ao imperialismo francês, a
zado os Batalhões portugueses, em especial os de ca - qual se consumará em março do ano seguinte, com a
çadores, mas de um modo geral todos os que tomaram retirada das forças de Massena pela região da Guarda.
parte na Batalha e que mereceram o reconhecimento Em conclusão, a Guerra Peninsular, de que a Bata -
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das chefias militares e do comando do Exército . lha do Buçaco constitui um episódio marcante, integra
Quanto a Wellesley, após a vitória e tendo em conta uma nova ordem nas relações internacionais, a qual foi
os movimentos do adversário numa tentativa de tornear inaugurada pela Revolução Francesa de 1789, e traduz
a posição, decidiu retirar do Buçaco para as Linhas de uma dicotomia entre o universalismo e um sistema
Torres onde consolidaria a defesa aliada. unipolar, preconizado pela França, contra as conceções
Do campo de batalha restavam milhares de mortos de equilíbrio de poder defendidas pela Inglaterra. Será
– cerca de 4500 do lado francês, do lado dos aliados, em nome destes princípios que a denominada potência
1253 (metade ingleses e metade portugueses, sensi- marítima (Inglaterra) e potência continental (França)
velmente) – para além dos feridos e prisioneiros. Um vão confrontar-se.
quadro de indizível sofrimento, que a abundante ico - A Península Ibérica é um dos Teatros de Operações
nografia da Batalha silenciosamente invoca e que se deste conflito, pelo seu posicionamento geoestratégico.
inscreve também nas páginas da História. Destacou-se Portugal assume neste sentido uma importância estraté-
a ação humanitária dos frades do Convento do Buçaco, gica fulcral, tanto a nível do seu posicionamento euro-
que acolheram e cuidaram dos feridos, sem distinção peu como das suas possessões ultramarinas, interesses a
de nacionalidade. que a ‘velha aliada’ Inglaterra não era alheia.
Se a vitória aliada no Buçaco estava consumada, tal A cooperação de sucesso entre os Exércitos portu-
não significava que o país estivesse livre da ameaça fran- guês e britânico foi, pois, determinante para a afirmação
cesa. Seguiram-se tempos difíceis não só para o Exército da soberania nacional e para a credibilidade externa de
anglo-luso como também para a população portuguesa, Portugal. No Buçaco, como em tantos outros momentos
que resistiu estoicamente aos ataques inimigos, a todo o da nossa História, o Exército contribuiu decisivamente
tipo de barbaridades, e à fome. Pelo caminho da retira- para libertar o Território Nacional do jugo alheio e para
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da , Wellesley mandara destruir tudo o que fosse pro- afirmar Portugal como Nação. JE
veitoso aos franceses, segundo o próprio
princípio napoleónico de que “a guerra ali-
menta a guerra”.
A Batalha do Buçaco teve consequências
de ordem material e moral, no imediato e
no futuro. O seu significado, no âmbito das
invasões francesas e da resistência aliada,
é muito mais vasto, podendo dizer-se que
para Napoleão e o seu projeto hegemónico
foi o princípio do fim .
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O Exército anglo-luso liderado por
Wellesley consegue derrotar as temerosas
forças de Napoleão, que somara vitórias
pela Europa, num lance expansionista sem
precedentes na era moderna. Ao mesmo
tempo, assiste-se a uma revitalização do
Soldado português, que ombreou heroica-
mente com o britânico.
Nos planos militar e político, a vitória Recriação histórica da Batalha do Buçaco, execução de salvas de tiro