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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            no número de “terços”, como no número de “companhias soltas” (tabela 4),
            o  efetivo  presente  na  “resenha”  de  1639  parece  manter-se  num  patamar
            relativamente estável dentro de uma cronologia bastante alargada.
                  O relatório de 1639 também contabiliza o potencial de recrutamento para
            todas as comarcas do reino. O Norte é a região fornecia a maior percentagem
            dos  efetivos.  Não  temos  ponto  de  comparação  com  o  passado,  mas  o  caso
            do Algarve pode fornecer algumas pistas quanto à evolução na mobilização e
            recrutamento. Temos a compilação de João Cascão de 1573 que, se comparada
            com o efetivo apresentado na “Relação” de 1639, nos dá a ideia da evolução
            ocorrida durante os 66 anos que medeiam entre estes dois registos. Em 1639,
            o reino do Algarve tinha 52 companhias com um total de 8565 homens, o que
            corresponde a uma redução face aos 9950 homens que estiveram presentes
            durante os “alardos” realizados em 1573. Mas mesmo com uma redução algo
            substancial – cerca de 1000 homens –, e reconhecendo a assinalável falta de
            armas de que os corregedores e sargentos das comarcas “denunciaram”, o certo
            é que no Algarve e em Lisboa o efetivo imediatamente mobilizável evidencia
            alguma estabilidade. Ainda assim, esta é uma mera perceção baseada apenas na
            rápida comparação dos dados fornecidos por estes documentos fundamentais
            – João Cascão, Francisco da Costa Pereira e a “relação” de 1639. Será necessário
            um confronto abrangente com a realidade demográfica de Portugal no intervalo
            temporal  em  apreço.  Mas  independentemente  de  qualquer  análise  positiva
            dos números em jogo, a “resenha” parece ter cumprido o seu papel, tal como
            a inspeção de 1573. Mesmo constituindo, de facto, a última demonstração de
            poder militar do período da “Monarquia Dual” no reino português.


                  5. a “União” Fez a Força?
                  No início do século XVI, a expansão apoiou-se numa atualização das práticas
            de guerra; em Marrocos, no Oriente de Albuquerque, as novas “companhias de
            ordenança”  protagonizaram  algumas  das  operações  militares  mais  notáveis.
            Alcácer  Quibir,  batalha  combatida  no  Norte  de  África  em  moldes  europeus,
            fechou este ciclo expansionista. Pelo meio ficam mais de 50 anos de atividade
            militar intensa, mas que parece combatida em moldes senão anacrónicos, pelo
            menos diferentes da “guerra contra gente armada”  do teatro de operações
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            117  Melo, Martim Afonso de – Regimento de guerra. In Sousa, António Caetano de, Provas do IV
            livro da História Genealógica da Casa Real Portuguesa, v.4, Coimbra, Atlântida, 1948, p.334.
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