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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  Quinta feira primeiro de maio as dez da manhã tirada a bandeira de
                  Maurício se plantou em seu lugar sobre a see a das armas reais de
                  S. M. com castellos e leões. Matéria de notáveis descontentamentos
                  entre os portuguezes, chamando aquillo, se foi enavertencia, odio
                  nos castelhanos a nação portugueza que em tudo se mostrava, e
                  nunca em tão pública aparência .
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                  As  duras  críticas  de  Manuel  de  Meneses  conduziram  à  censura  do
            seu testemunho, e a publicação do texto impedida por decreto do Conselho
            de  Estado .  Prevaleceram  as  versões  oficiais  como  a  de  Tomás  Tamayo  y
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            Vargas   que,  ao  contrário,  relataram  a  atuação  “frouxa”  dos  portugueses.
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            Na representação pictórica oficial da expedição, o quadro de Batista Maino
            (figura 8), é evidente onde se encontra o poder: Filipe IV ocupa naturalmente
            o lugar mais destacado, e o comandante da expedição, Fradique de Toledo
            Osório,  aparece  a  seu  lado,  em  posição  claramente  superior  aos  restantes
            comandantes. Visto de uma perspetiva desapaixonada, trata-se da imposição
            de uma tutela.
                  A situação militar na última década da “Monarquia dual”, em especial
            quando associada ao recrutamento de homens para a guerra, parece degradar-
            -se substancialmente em toda a Espanha. Voltemos um pouco atrás. Em 1623
            foi  publicado  novo  regimento  que,  em  Portugal  equivaleu  à  reativação  das
            “ordenanças  sebásticas”.  Pretendia-se  abrir  caminho  à  “União  das  Armas”,
            o  esboço  de  exército  ibérico  que  o  conde-duque  de  Olivares  pretendeu
            implementar em 1625. Vejamos o resultado prático, seis anos depois. Em 1631,
            foi decidido embarcar o “Terço da Armada Real” para socorrer o Pernambuco,
            depois da conquista de Olinda pelos holandeses. Nomeado Álvaro de Melo
            como mestre-de-campo general , deu-se início ao levantamento dos 1600
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            homens previstos, que chocou com as usuais dificuldades em atrair recrutas


            103  MENEZES,  Manuel  de  –  Recuperação  da  Cidade  do  Salvador  escrita  por  Dom  Manoel  de
            Menezes chronista mor e cosmographo de sua magestade e capitão geral da Armada de Portugal
            naquella empresa. Ed. Francisco Varnhagen. Revista Trimensal, vol. 22, 1859.
            104  CAMENIETZKI, Carlos e PASTORE, Gianriccardo – 1625, o Fogo e a Tinta: a batalha de Salvador
            nos relatos de guerra. In Topoi, revista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, v.6, n.11, Rio de
            Janeiro, 2005, pp.261-288.
            105  VARGAS, 1628.
            106  Sobre se entregar a gente do Terço da Armada que vai ao Brazil ao Mestre de Campo Dom
            Alvaro de Mello. Biblioteca da Ajuda, Cod. 51-X-1 (Governo de Portugal pelo conde de Castro),
            “ordinario” de 8 de Out., fl. 64, “Sobre as ordenanças militares”, fls. 134-134v.,
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