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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            na  Flandres.  A  “doctrina”  refere  “tercios”  constituídos  por  13  companhias,
            orgânica  idêntica  aos  “terços”  portugueses  levantados  quando  do  alarme  de
            1596. A organização da defesa de Lisboa em 1596 é, aliás, referida por Scarion
            de Pavia. O “aparelho” das forças portuguesas descrito por Francisco da Costa
            Pereira seguiu este padrão orgânico — ou antes, poderíamos dizer, a prática dos
            espanhóis em finais do século. A redução do efetivo das companhias é um dado
            objetivamente referido no “tratado do provimento de guerra”: “a cada dez cabos
            correspondia uma companhia, portanto seriam 3 companhias a 120 homens cada
            uma” , o que configura uma redução substancial relativamente aos 250 homens
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            das  companhias  da  época  sebástica.  A  inclusão  de  uma  terceira  companhia
            de  atiradores,  como  preconizado  por  Scarion  de  Pavia,  encontra-se  também
            documentada no “Tratado” de Costa Pereira a propósito do “terço” levantado a
            comarca de Leiria. Ainda segundo Costa Pereira, em Lisboa optou-se por aumentar
            o número de “terços” em detrimento das companhias que os constituíam, como
            era também vulgar suceder nos “tercios” espanhóis da época .
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                  A reativação do sistema de recrutamento sebástico perseguia ainda outro
            objetivo, ou melhor, um destino: a Flandres. Dificilmente encontramos qualquer
            menção a “terços” constituídos exclusivamente por soldados portugueses nos
            Países Baixos, mas a existência de companhias é um facto documentado. Em
            1594 vários portugueses, incluindo um açoriano, pertenciam a uma companhia
            recrutada em Burgos . Uma situação mais explícita ocorre muitos anos depois,
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            em 1615, quando foram levantadas 42 companhias na região de Lisboa com
            destino à Flandres . No estado atual da investigação, apenas se poderá supor
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            que  uma  análise  aprofundada  das  fontes  disponíveis  permitirá  traçar  uma
            perspetiva mais clara sobre a participação de unidades militares portuguesas
            nas guerras da Flandres. Entretanto, a escassa documentação consultada aponta
            para que, inicialmente, os homens das “levas” de Portugal seriam distribuídos
            pelos “tercios” espanhóis previamente organizados. O “tercio” de “entre “Duero
            y Miño”, um dos cinco organizados para embarcar na armada de 1588, poderia
            ser um possível enquadramento para as companhias levantadas em Portugal.
            Quanto aos veteranos portugueses da Flandres, Cristóvão de Andrade, natural
            de Lisboa foi “sargento-mor na Flandres”, tendo participado no cerco Antuérpia


            94  PEREIRA, 1596, pp.46-47.
            95  SOUSA, 2015, pp. 492-493.
            96  HERNÁNDEZ, Antonio José Rodríguez. Los Tercios de Flandes. Madrid, Nowtilus, 2015, p.178.
            97  HERNÁNDEZ, 2015, p.198.
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