Page 232 - recrutamento
P. 232

RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  Mas  não  foi  só  a  fronteira  terrestre  que  mereceu  preocupações
            defensivas, pois a fortificação e guarnição militar da costa não foi descurada.
            A  primeira  prioridade  foi  dada  à  barra  do  Tejo,  planeando-se  a  fortificação
            desde o Cabo Raso/Cascais até Xabregas. Para Leste, a rede de fortificações
            defensivas previa a ligação do Cabo Raso até Peniche. Assim, na Linha costeira
            Lisboa-Cascais-Peniche, a defesa ficaria a cargo de 1.000 homens, contando
            o Algarve com igual contingente do Exército de Linha. Segundo Paula Noé, há
            três fortificações que se destacam face ao papel defensivo desempenhado: a
            Fortaleza da Luz, que se amplia com a obra coroa, vulgarmente denominada
            de Cidadela; São Julião da Barra, ampliado em 1650, com um revelim a cobrir
            a  porta,  integrado  num  plano  mais  ambicioso  de  Nicolau  de  Langres,  não
            concretizado; o forte de São Lourenço da Cabeça Seca, concluído em 1657.
            Simultaneamente construíram-se, ao longo dos anos, uma série de pequenos
            fortes  e  baluartes,  num  total  de  48,  com  a  seguinte  ordem  de  prioridade:
            (1) troço Belém-Praia do Guincho; (2) Belém-Xabregas e litoral do cabo Raso
            até Peniche, onde se conclui a fortificação (1645), mas se deixa por acabar
            a cortina do istmo, e se edifica o Forte de São João Baptista (1654-1678), na
            ilha da Berlenga Grande; (3) inicia-se a construção da muralha abaluartada
            destinada a defender Lisboa pelo lado de terra, mas que não foi concluída .
                                                                                74

                  Contingências e Contingentes de uma guerra de Usura

                  A  guerra,  iniciada  com  o  ataque  infrutífero  das  tropas  espanholas  às
            praças de Elvas e Olivença, a 9 de junho de 1641, colocou à prova o «edifício
            restaurador», surgindo dificuldades de vária ordem. Os comandantes militares, na
            sua maioria, careciam da necessária competência de chefia e de conhecimentos
            técnico-táticos  adequadas  às  exigências  do  conflito,  sobrando-lhes,  ao  invés,
            a intriga e a competição pessoal. Ao nível dos recursos humanos, percebeu-se
            que eram insuficientes para fazer face às várias frentes de combate, situação
            agravada por dificuldades sentidas no seu recrutamento. Além do mais, as tropas
            eram inexperientes e indisciplinadas. Recrutar durante a guerra foi uma prática
            corrente,  procurando  o  sistema  de  ordenanças  encaminhar  soldados  para  o
            Exército de Linha e para as Milícias. Se a preocupação era manter um exército
            permanente e militarmente capaz de dar consistência e coerência às operações
            militares, o recurso aos homens dos concelhos tornou-se uma inevitabilidade.


            74  NOÉ, Paula – Guia de Inventário. Fortificações Medievais e Modernas. Sacavém: IHRU, p. 24.
              220
   227   228   229   230   231   232   233   234   235   236   237