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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
Mas não foi só a fronteira terrestre que mereceu preocupações
defensivas, pois a fortificação e guarnição militar da costa não foi descurada.
A primeira prioridade foi dada à barra do Tejo, planeando-se a fortificação
desde o Cabo Raso/Cascais até Xabregas. Para Leste, a rede de fortificações
defensivas previa a ligação do Cabo Raso até Peniche. Assim, na Linha costeira
Lisboa-Cascais-Peniche, a defesa ficaria a cargo de 1.000 homens, contando
o Algarve com igual contingente do Exército de Linha. Segundo Paula Noé, há
três fortificações que se destacam face ao papel defensivo desempenhado: a
Fortaleza da Luz, que se amplia com a obra coroa, vulgarmente denominada
de Cidadela; São Julião da Barra, ampliado em 1650, com um revelim a cobrir
a porta, integrado num plano mais ambicioso de Nicolau de Langres, não
concretizado; o forte de São Lourenço da Cabeça Seca, concluído em 1657.
Simultaneamente construíram-se, ao longo dos anos, uma série de pequenos
fortes e baluartes, num total de 48, com a seguinte ordem de prioridade:
(1) troço Belém-Praia do Guincho; (2) Belém-Xabregas e litoral do cabo Raso
até Peniche, onde se conclui a fortificação (1645), mas se deixa por acabar
a cortina do istmo, e se edifica o Forte de São João Baptista (1654-1678), na
ilha da Berlenga Grande; (3) inicia-se a construção da muralha abaluartada
destinada a defender Lisboa pelo lado de terra, mas que não foi concluída .
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Contingências e Contingentes de uma guerra de Usura
A guerra, iniciada com o ataque infrutífero das tropas espanholas às
praças de Elvas e Olivença, a 9 de junho de 1641, colocou à prova o «edifício
restaurador», surgindo dificuldades de vária ordem. Os comandantes militares, na
sua maioria, careciam da necessária competência de chefia e de conhecimentos
técnico-táticos adequadas às exigências do conflito, sobrando-lhes, ao invés,
a intriga e a competição pessoal. Ao nível dos recursos humanos, percebeu-se
que eram insuficientes para fazer face às várias frentes de combate, situação
agravada por dificuldades sentidas no seu recrutamento. Além do mais, as tropas
eram inexperientes e indisciplinadas. Recrutar durante a guerra foi uma prática
corrente, procurando o sistema de ordenanças encaminhar soldados para o
Exército de Linha e para as Milícias. Se a preocupação era manter um exército
permanente e militarmente capaz de dar consistência e coerência às operações
militares, o recurso aos homens dos concelhos tornou-se uma inevitabilidade.
74 NOÉ, Paula – Guia de Inventário. Fortificações Medievais e Modernas. Sacavém: IHRU, p. 24.
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