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Cultura & Lazer
UMA VISÃO DA HISTÓRIA
A maneira como o passámos a fazer, se não foi in- O Pelotão orgânico tinha 42 homens e 43 cavalos
venção nossa, foi talvez a descoberta do já descober- organizados em Esquadra de comando: Alferes, cla-
to, mas para nós foi uma invenção. Atrevo-me a di- rim (elemento de ligação), ferrador, radiotelegrafis-
zer nós, porque, aquando das primeiras operações que ta, enfermeiro, baste; e três Secções, cada uma a duas
efetuámos a nível de Esquadrão, colaborei entusias- Esquadras e estas a dois trios, chefe de fila, guarda
ticamente na busca da solução, em momentos inol- cavalos e cerra-fila.
vidáveis, quando nas marchas itinerárias de regresso À ordem de apear, cada Esquadra libertava para
a Silva Porto, fora da zona de intervenção, no relaxe combater, como se de Infantaria se tratasse, uma
de uns quantos dias de forte tensão, com as rédeas no Equipa de quatro homens, seis equipas no total, inte-
pescoço dos cavalos e estes a perceberem para onde grando-se o Alferes na 1.ª Equipa da 3.ª Secção, subs-
iam, sem precisarem de serem empurrados (faziam tituindo o seu comandante que ficava a comandar o
mais um quilómetro por hora, passando dos seis para estacionamento com os sete homens restantes.
os sete), e nos altos para pernoita, à volta de uma ge- A manutenção das posições relativas de cada um na
nerosa fogueira, saboreávamos o que restava da ração formação era coisa sagrada, para obviar a que, inad-
de combate, agora menos má porque aquecida, fazía- vertidamente, alguém ficasse para trás ou nas pon-
mos a avaliação da operação. tas se desviasse e se perdesse. Todos tinham de saber
Confrontávamos os saberes da experiência, do até quem estava à sua frente, à direita, à esquerda e atrás,
ali Pelotão a Cavalo do Tenente Manuel Veloso, com o e com eles estar em permanente ligação. Em zonas de
que aconteceu e podia ter acontecido versus o que gos- mata mais densa, onde não se tinha a visão do conjun-
taríamos que tivesse acontecido. Tudo isto na perspe- to, progredir com uma frente de grande elasticidade e
tiva de que iríamos brevemente deixar de estar coloca- inevitáveis inflexões de direção ditadas pelas condi-
dos em quadrícula, mas a ser considerados como tropa ções do terreno ou por uma situação de reação e perse-
especial de intervenção, em proveito de um comando guição, alguém se perder era muito fácil de acontecer
de escalão superior, e como tal iríamos passar a atuar e para quem comandava era uma preocupação perma-
em zonas onde o contacto com grupos armados seria nente.
de alta probabilidade.
Foram essas reflexões – fruto da sólida cultura mi- Transporte de militar ferido
litar do Capitão Vasco Ramires e da sua grande iden-
tidade com o cavalo, no confronto com uma realidade,
que aquelas primeiras operações nos davam do inimigo
que tínhamos pela frente, do terreno que pisávamos,
do equipamento que dispúnhamos e do que não dis-
púnhamos e, muito importante, da qualidade humana
das Nossas Tropas (NT), presentes e futuras – que de-
finiram um modo de atuação, passado ao papel, cons-
tituindo o manual de instrução, a que o Capitão Vasco
Ramires chamou: Tática do Pelotão a Cavalo – Estudo da
atuação do Pelotão em diversas situações de campanha.
Definiu-se o trio como o elemento base de organi-
zação do Pelotão e foi-se concebendo a formação táti-
ca de base para atuação na mata. Passávamos do tudo
em linha, para uma formação mais elaborada. Perdia-
-se em extensão de frente, mas ganhávamos em poder
ofensivo e de manobra, com a formação de uma se-
gunda e terceira linhas.
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