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44. Cultura & Lazer
mente ditos, a tropa a cavalo, foram emboscados e nos
encontros inopinados com grupos armados levaram
sempre a melhor, sem baixas por morte e com armas e
guerrilheiros apanhados.
Como exemplo, veja-se o texto do louvor que deu ori-
gem a uma Cruz de Guerra do Soldado Frederico Capinha
Ramos: “...apercebeu-se da existência de um acampa-
mento, do qual se aproximou em companhia de um seu
camarada, e a curta distância verificou tratar-se do acam-
pamento em que se encontrava o grupo In perseguido.
Então, lançou o seu cavalo à carga sobre este, fazendo ao
mesmo tempo fogo. Tendo sido alvejado com rajadas de
pistola-metralhadora, feitas pelo único elemento In que
não debandou, foi atingido por um projétil no carrega-
dor da sua arma e por dois o seu cavalo, que quase caiu.
No entanto, esporeando a sua montada fê-la erguer-se e
Força de Cavalaria, “À carga” lançando-se de novo sobre o elemento In que o alvejara,
provocou também a sua fuga.”
Mas o que trazia de novo à luta antiguerrilha a ação Na dita guerra clássica, com o In identificado e lo-
das tropas a cavalo? Além de mais área batida, de uma calizado pela frente, a ordem “À carga” é precedida
ação de presença mais impactante e de uma maior efi- pelas de “Ao trote” e de “Ao galope”. É a última or-
cácia nas medidas de deceção, o que verdadeiramente dem que o comandante da Força de Cavalaria dá. Daí
distinguia estas tropas, o que fazia a diferença, era a sua para a frente é um: seja o que Deus quiser! No turbilhão
capacidade de perseguição pondo em causa o princípio desencadeado, cada um fica entregue a si próprio, ao
do guerrilheiro de não se deixar apanhar. controlo maior ou menor da explosão da adrenalina
A nossa missão era bater a mata na procura de po- que, com a gritaria e aos tiros ou à espadeirada, pro-
pulações fugidas, voluntariamente ou coagidas, e que cura descarregar no In, ultrapassando-o a caminho do
proporcionavam pontos de apoio à guerrilha, sempre ponto de reunião, voltando a formar para nova carga
na iminência de tropeçar num dos grupos armados que se for o caso.
as enquadravam. Tanto quanto julgávamos saber, esses Não era assim connosco nas matas do Leste, nem
grupos eram constituídos por oito a dez guerrilheiros podia ser. O In surgia-nos inopinadamente, a reação
muitos deles armados, já com armas automáticas, com tinha de ser imediata e a voz de carregar era dada pelo
uma reação imprevisível num contacto connosco, que primeiro que se confrontasse com a situação, só por
podia ir do largar a arma para melhor fugirem, o que mero acaso seria dada pelo comandante da Força.
normalmente aconteceu, ou reagir a tiro, o que não era O apear, para depois reagirmos, estava totalmente
muito espectável que acontecesse, mas aconteceu. fora de questão, por completamente inadequado. As-
Enquanto uma Força apeada num contacto prepa- sim sendo, a nossa formação tinha de estar preparada
rado pelo Inimigo (In), numa emboscada, em que pre- para a reação imediata, opção tática que possibilitava
viamente e com o maior cuidado, este planeou as rotas uma carga de três vagas. A primeira executada pela 1.ª
de fuga, não temia a perseguição, tinha mais rapidez a linha iria destroçar o In, que ou tinha grande coração
fugir que as NT a perseguir e, por isso, a perseguição e continuava a fazer fogo ou fugia para escapar à 2.ª
nunca acontecia; com as tropas a cavalo a coisa era linha que lhe caía em cima, sendo certo que a fuga era
diferente e a capacidade de perseguição existia, e de cada vez mais problemática porque já estavam entala-
que maneira. Pelo que fica dito e pela imprevisibilida- dos entre a 1.ª e a 3.ª linha.
de do nosso itinerário, nunca os Dragões, os propria- Na fase da guerra que enfrentávamos, o In (o guer-