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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            e a casa da polvora em Lisboa e a Casa da armaria em Santarem» .  Dentre
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            estes bombardeiros havia, inclusivamente, uma corporação de bombardeiros
            alemães  com  direito  a  estandarte  e  santo  próprios,  e  que  embarcava  nas
            armadas  da  carreira  da  Índia.   Verdadeira  corporação  e  corpo  militar  de
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            carácter  permanente,  não  só  na  sua  existência  mas  como  instituição  que
            sedimentava e transmitia uma cultura militar, os bombardeiros virão a revelar-
            -se como uma peça fundamental da guerra moderna na afirmação do poder
            militar  português,   quer  nas  armadas  quer  nas  fortalezas,  não  parecendo
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            haver, ainda nesta fase, distinção significativa entre o artilheiro (bombardeiro)
            naval e o que opera em terra. Aliás, bastará recordar o facto de que em 1537
            D. João IIII manda estacionar em terra os bombardeiros das armadas perante
            a crescente ameaça da pirataria nas costas do reino, crendo serem aptos para
            o  desempenho  da  missão.  O  recrutamento  de  artilheiros  parece,  no  início
            do século, um fenómeno associado ao regular funcionamento de armarias e
            fundições e à existência de corpos de técnicos especializados que forneceriam
            elementos para guarnecerem peças e canhões, em terra e no mar.

                  Na marinha o panorama era algo diferente no que toca ao recrutamento.
            Apesar de não haver corpos especializados de combate no mar e de os navios
            da  armada  serem  utilizados  sobretudo  como  meio  de  transporte  logístico,  a
            participação  em  operações  militares  de  combate  naval  implicava  sempre  a
            utilização de bombardeiros e de infantes, estes armados com espada, lança, besta
            ou espingarda/arcabuz, utilizados em manobras de abordagem ou desembarque.
            Porém,  independentemente  de  qualquer  situação,  o  recrutamento  destes
            homens  era  condicionado,  imediatamente,  à  capacidade  do  navio  em  carga,
            espaço e sobrevivência no mar – alimentação e água suficientes. Ou seja, muito
            cedo a marinha teve de se habituar a dotar os navios com o número exacto de
            homens, fosse para missões de transporte logístico, fosse para combate. Trata-


                Citado em VITERBO, Sousa – Artes e Artistas em Portugal – Contribuições para a História das
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            Artes e Indústrias Portuguezas, 2ª edição. Lisboa: Livraria Ferin – Editora, sd, p. 156.
            34   Ainda em 1563, D. Sebastião (na regência de D. Henrique) nomeava Jacome da Orta como
            «condestabre mor dos bombardeyros alemães enquanto o eu ouuer por bem e Não mandar o
            contrario com o quaL avera dordenado cada anno enquanto o seruir vinte mill reis que he outro
            tanto  como  com  o  dito  careguo  tinha  e  auia  guilherme  de  nostradama  per  cujo  fallecimento
            vagou». Cf. ANTT, Chancelaria de D. Sebastião – Doações, Liv. 11, fol.198 v.º. A presença destes
            profissionais estrangeiros perpassa praticamente todo o século XVI.
            35   CASTRO, Tiago – Bombardeiros na Índia – os homens e as artes da artilharia portuguesa (1498-
            -1557). FLUL, 2011, pp-22-34.
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