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5. A mobilização, Recrutamento
e Guerra Durante a Monarquia Dual (1581-1640)
decidido a vingar-se das “injúrias que lhe os castelhanos fizeram”, quando da
sua captura no rescaldo da batalha de Alcântara . Só passados quatro anos
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este homem, conhecido pela alcunha de “Solposto”, foi capturado depois de
denunciado por um “boticário” de Almeirim. Mas a fama deste revoltoso perdurou
em Lisboa – palco de várias malfeitorias praticadas por soldados espanhóis –,
onde “foi um dos mais falados homens que houve em seu tempo” . Esta fama
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não pode deixar de comportar alguma admiração ou mesmo um sentimento de
regozijo. Foi também em 1584, ano da captura do “Solposto”, que se iniciou a saga
dos “falsos D. Sebastião”. O primeiro embuste, o chamado “rei de Penamacor” ,
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não evoluiu para mais que a condenação dos três responsáveis . O mesmo não
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se passou no ano seguinte. Em 1585 estalou a revolta conhecida como do “D.
Sebastião da Ericeira”, espoletada pelo ermita Mateus Álvares natural da vila da
Praia, na ilha Terceira – é curioso notar que se trata de um natural do último foco
da resistência antonina. Centrado na região de Lisboa, este novo embuste teve
uma adesão popular significativa, juntando “muita gente rústica dos termos das
vilas da Ericeira, Mafra, Torres Vedras, Sintra e de outras partes” .
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A perseguição ao “Solposto” envolveu “um a companhia de arcabuzeiros
castelhanos”. Para suprimir a revolta do “rei da Ericiera” convocaram-se os
soldados espanhóis “do presídio” do forte de São Julião da Barra (tabela 3)
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comandados pelo então capitão deste presídio, Tomás Calderón . Desta vez
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foram envolvidos os portugueses, juntando um total de 200 arcabuzeiros com
outros 30 “cossoletes piqueiros” . Foi talvez uma resposta à amplitude da
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revolta, “passante de 1000 homens” organizados em “três bandeiras de gente
posta em esquadrões” (figura 2).
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38 SOARES, 1953, p.222.
39 SOARES, 1953, p,222.
40 CASTRO, D. João – Discurso da vida Rey D. Sebastiam. Int. e not. Aníbal Pinto de Castro. Lisboa:
Edições Inapa, 1994, p. 34v.
41 LANDEIRO, José Manuel – O Concelho de Penamacor na História, na Tradição e na Lenda, 4ª ed.
Penamacor: CM Penamacor, 1995, pp. 256-260.
Carta de perdão geral concedido aos rústicos do termo de Sintra”, ANTT, livro 1º de Leis, fls.102-
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-103v.
43
CASTRO, 1994, p.35v.
44 HERRERA, Antonio de – Segunda parte de la historia general del mundo. Madrid: Pedro
Madrigal, 1601, p.449.
45 “Treslado de um extracto de uma carta do marquês de Santa Cruz para Cristobal de Sotomayor
sobre a prisão e morte do eremita, que se fez passar pelo Rei D. Sebastião”, in O Falso D. Sebastião
da Ericeira e o Sebastianismo. Mafra: Câmara municipal de Mafra, s.d., pp. 315-16.
46 SOARES, 1953, p.225.
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