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5. A mobilização, Recrutamento
                 e Guerra Durante a Monarquia Dual (1581-1640)

               é a evidência desse mal-estar. Ao mesmo tempo, a milícia era tendencialmente
               niveladora ,  ou  pelo  menos  obrigava  a  uma  proximidade  forçada  entre
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               pessoas de origens sociais muito díspares. As “provisões” de 1574 procuraram,
               precisamente, evitar o convívio entre o “o povo” e “escudeiros de linhagem ou
               daí para cima”, obrigando à incorporação de “tais pessoas” em “esquadras” que
               deveriam ocupar “o melhor e mais honrado lugar da companhia” .
                                                                         29
                     Contudo,  não  deixa  de  constituir  facto  notável  a  organização  de  um
               exército com a dimensão do que D. Sebastião levou na segunda “jornada de
               África”:  cerca  de  12.000  soldados  portugueses,  aos  quais  se  juntaram  vários
               milhares  de  “gastadores”  –  gente  dedicada  aos  trabalhos  de  fortificação  e
               assédio, que ascenderiam a mais 5000 almas. Somados os efetivos contratados,
               mercenários “alemães” e italianos, e ainda os voluntários espanhóis, temos a
               segunda cidade portuguesa mais populosa de Portugal desta segunda metade
               do  século  XVI,  apenas  ultrapassada  por  Lisboa  que,  como  se  sabe,  sempre
               distorceu o panorama demográfico português. Foram também as companhias
               reorganizadas e adestradas pelo “Regimento dos capitães-mores” a sustentar
               o embate com a poderosa máquina de guerra espanhola. Apesar das perdas
               avassaladoras em Marrocos, a rapidez da mobilização das forças antoninas, e a
               audácia em oferecer uma batalha campal contra os “tercios” do quase invencível
               Fernando  de  Toledo,  duque  de  Alba,  credibilizam  o  processo  de  reforma
               implementado pelo “Desejado”.

                     “Alardos e ordenanças que de poucos anos a esta parte se ordenaram
                     não servem de mais que os povos serem vexados e oprimidos pelos
                     oficiais  e  ministros  das  ditas  ordenanças  sem  fruto  nenhum  que  ao
                     reino se siga dele” 30

                     Este foi o apelo dos “estados dos povos e da nobreza” ao novo monarca
               para suspender as ordenanças sebásticas. O que era, aliás, favorável ao início
               da “Monarquia Dual”. Falhada a captura do rival D. António, situação só possível
               em  resultado  das  simpatias  da  população,  tardava  o  apaziguamento  entre
               portugueses e espanhóis. Apesar de derrotado em toda a linha, a sobrevivência
               do pretendente à coroa continuava a alimentar tensões.  Contudo, parece ter



               28  COSTA, 2004, p. 75.
               29  BORREGO, 2006, p.877.
               30  COSTA, 2004, p.75.
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