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5. A mobilização, Recrutamento
                 e Guerra Durante a Monarquia Dual (1581-1640)

                     O ano de 1572 foi quase inteiramente devotado à organização da armada
               destinada a participar na coligação contra os turcos . Decorreram nove meses
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               desde  a  aceitação  do  convite  formulado  pelo  embaixador  veneziano,  em
               janeiro , até ao término dos preparativos, em setembro . Poucos dias depois,
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               a frota foi destruída pelo temporal de 13 desse mês. Mas, apesar do enorme
               revés que inviabilizou esta demonstração militar, o rei não desistiu de organizar
               nova expedição, desta vez dirigida ao Norte de África . O ano seguinte será
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               decisivo para o processo de reestruturação militar em curso. No início de 1573
               realiza uma demorada viagem à região Sul do reino , cujo primeiro objetivo
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               parece ter sido determinar, “in loco”, como se implementavam as disposições
               previstas  no  regimento  de  1570.  Os  resultados  são  impressionantes,  tendo
               em  consideração  a  escassa  população  de  Portugal  no  século  XVI.  Foram
               apresentados 21 “alardos” com soldados organizados em rigorosa formatura.
               Alguns, como o que foi realizado em Faro sob a competente orientação do
               alcaide  Rui  Barreto,  deixou  impressionada  a  assistência  pela  complexidade
               dos  movimentos  dos  “bisonhos”  das  “ordenanças”  e  apetrechos  militares
               envolvidos.  No  total,  a  crer  no  cronista  João  Cascão  que  acompanhou  a
               viagem, foram registadas mais de 100 companhias, que a respeitarem o efetivo
               preconizado pelo “Regimento” de 1570, dão um total que rondaria os 20.000
               homens  (tabela  1).  Um  êxito  para  o  sistema  de  recrutamento  preconizado
               pelas “ordenanças”, portanto – e não só no plano estritamente quantitativo.
                     Pareceria  que  se  chegava  ao  fim  de  um  processo:  publicação  da
               legislação  estruturante  e  posterior  verificação  da  respetiva  implementação
               no  terreno;  retificação  de  algumas  das  objeções  suscitadas  à  lei  inicial,
               nomeadamente  “declarar  mais  algumas  coisas  que  no  dito  Regimento  não
               foram declaradas e prover em outras em que era necessário dar ordem” . Foi
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               o que constou na “Provisão sobre as Ordenanças agora novamente feita com



                 VELOSO, Queirós – D. Sebastião 1554-1578, 3ª ed. rev. e aum.. Lisboa: Empresa Nacional de
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               Publicidade, 1945, pp.140-149.
               13  SERRÃO, Joaquim Veríssimo – Itinerários de El-Rei D. Sebastião (1568-1578) 2ª ed.. Lisboa:
               Academia Portuguesa de história, 1987, pp.226-7.
                 SERRÃO, 1987, p.254.
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               15  SERRÃO, 1987, pp.259-60.
               16  CASCÃO, João – Uma jornada ao Alentejo e Algarve. Ed. Francisco de Sales Loureiro. Lisboa:
               Horizonte, 1984.
               17  BORREGO, 2006, p.876.
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