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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
homens . No lado dos portugueses testaram-se métodos, articularam-se meios
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terrestres e navais, mas o rescaldo desta primeira incursão africana não parece
ter satisfeito o rei; ou, pelo contrário, a expedição de 1574 destinou-se a “formar
“capitães e soldados experimentados para entender melhor, e de mais perto o
como poderia mandar fazer a guerra ao xarife, com maior poder” ?
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É o que parece. Em 1575, portanto logo no ano imediato, D. Sebastião
seguiu com uma frota de 13 navios para o Algarve, com a intenção de voltar
ao norte de África, desta feita a Mazagão, a praça mais a sul. A oportunidade
gorou-se, e no ano seguinte ordena o apresto de nova frota de 5 galés e um
número indeterminado de navios de alto bordo, com resultado idêntico. Mas
o Norte de África encontra-se já enraizado nos projetos do rei. E chega o
ponto culminante das reformas sebásticas, desiderato lógico de um processo
invulgarmente coerente: publicaram-se as leis, adestraram-se os homens e
verificou-se o resultado; ajustou-se a legislação e procedeu-se ao ensaio geral no
futuro teatro de operações, em jeito de prova de fogo. E assim, no final do ano
de 1576, teve lugar o encontro de Guadalupe, no qual D. Sebastião procurou o
concurso de Filipe II para uma expedição conjunta ao Norte de África. O caminho
para Alcácer Quibir era já irreversível. A destino que, afinal, sempre esteve no
horizonte desde que assumiu o governo em 1568.
2. Do Contraciclo à Defesa da Nova Fronteira
Consumada a derrota de Alcácer Quibir, desaparecido D. Sebastião, a crise
sucessória trouxe a guerra para o território do Portugal Europeu. O tempo foi,
portanto, de alguma continuidade relativamente à pertinência das reformas
militares do malogrado rei, mau grado as resistências que as reformas sebásticas
suscitaram. Dentro da nobreza, era evidente a oposição à interferência do poder
central num processo de recrutamento que escapava às mãos dos oligarcas.
A recusa de alguns nobres em cooperar no levantamento de homens para
a expedição de 1578, como foi o caso do duque de Guimarães, ou de forma
desabrida como o fez D. Francisco de Melo numa carta de recusa enviada ao rei ,
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25 SOUSA, Luís Costa e – From Tangier to Alcácer Quibir. The Portuguese Military Revolution (Re)
visited. In Encounters in Borderlands. Portugal, Ceuta, and the «Other Shore», PSR edited volumes
series nº2. Peterborough: Baywolf Press, 2019, pp. 305-33.
26 LOUREIRO, Francisco de Sales – D. Sebastião antes e depois de Alcácer Quibir. Lisboa: Alfa,
1989, p.180.
27 SERRÃO, 1989, p.417.
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