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5. A mobilização, Recrutamento
e Guerra Durante a Monarquia Dual (1581-1640)
Pareceria que a invasão de 1580, isto é, o regresso da guerra ao território
do Portugal europeu, se tratou de um episódio isolado. Como se sabe, a união
ibérica implicou a partilha das opções estratégicas de Espanha. Nesta partilha
incluíram-se os inimigos da coroa espanhola, agora ibérica. Digamos que com a
união das duas coroas iniciou-se uma nova realidade para o reino de Portugal,
a de um território de fronteira. Seja como base privilegiada, “a principal praça
de armas naval de Espanha” nas palavras de Filipe II , ou como alvo de ataques,
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a mobilização de forças militares irrompeu no quotidiano das populações da
região de Lisboa e Vale do Tejo. Afinal, o reino do Algarve já não era exceção, e
recorrer-se-ia com frequência aos tais “ofícios das ordenanças” que se julgavam
limitados ao reino do Algarve. A capacidade de levantar homens para a guerra
era agora fundamental para a defesa de todo o reino num futuro previsível.
Impõe-se uma breve referência ao dispositivo defensivo fixo, porque será
a partir destes pontos que se articulou a defesa. A região de Lisboa e Vale do
Tejo vinha sendo reforçada com importantes obras de fortificação que visaram
completar o dispositivo defensivo. A campanha de 1580 permitiu identificar os
pontos críticos, sinalizados pela rede de “observadores” ao serviço de Espanha,
que aliás foram habilmente aproveitados. A sul, o forte do Outão, vulnerável a
partir de terra como se verificou durante o ataque espanhol, passou a integrar
um fortíssimo sistema com a adição do forte de S. Filipe de Setúbal; a norte, a
fortaleza de Nª Sª da Luz de Cascais reforçou o castelo medieval, que se verificou
não possuir quaisquer condições para resistir a um cerco em regra; na barra do
Tejo, a construção do forte da Cabeça Seca, vulgo S. Lourenço do Bugio, deu
por terminado o triângulo fortificado que defendia o acesso a Lisboa. Esta rede,
autêntico ferrolho fortificado com os últimos desenvolvimentos da arquitetura
militar, converteu-se num gigantesco presídio. As principais fortificações de
defesa da região de Lisboa, o coração estratégico do reino de Portugal, foram
ocupadas por tropas espanholas, tal como sucedia noutros territórios de
fronteira do império. Como é natural, esta situação não promoveu a coabitação
pacífica entre os súbditos dos dois reinos. De facto, foram os soldados que
guarneciam os presídios a enquadrar as forças recrutadas no reino destinadas
a acorrer aos motins e alarmes que se foram repetindo. Com as consequências
daí decorrentes
SALGADO, Augusto, e VAZ, João Pedro – Invencível Armada (1588). A participação portuguesa.
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Lisboa: Prefácio, 2002, p. 33.
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