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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            algumas  declarações  que  não  estavam  nos  Regimentos” .  Aparentemente,
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            cumpria-se cabalmente o preâmbulo do “Regimento dos capitães mores”, isto
            é, determinar “os cavalos e as armas que hão-de ter meus vassalos e para
            com elas se exercitarem” . Contudo, o alcance da legislação militar sebástica
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            parece ter, desde o início, outro fim mais amplo que extravasa a organização
            de uma milícia de caracter defensivo.
                  Terminada  a  “jornada  do  Alentejo  e  Algarve”,  o  rei  focou-se  nos
            preparativos para a primeira prova de fogo, a expedição a Marrocos conhecida
            como  “Primeira  jornada  a  África  d’el  rey  D.  Sebastião”.  Sediado  em  Évora
            durante  a  maior  parte  do  ano  de  1573,  o  rei  encontrava-se  rodeado  por
            soldados práticos, tanto estrangeiros como portugueses: Levo – o tal “italiano
            velho, muito pratico”; João da Fonseca, regressado da Flandres e logo nomeado
            sargento-mor da capitania-mor do Algarve; o italianizado Isidoro de Almeida,
            veterano das guerras do Piemonte de meados do século, e que se preparava
            para publicar o primeiro tratado “de re militari” português original. Ao mesmo
            tempo, juntam-se sinais que sugerem que tem lugar um esforço de atualização
            militar. O rei pretendia introduzir “novos modos da milícia … das partes de
            Itália e de outras onde a guerra florescia” . Um dos veículos privilegiados foi a
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            divulgação da literatura “de re militar” mais recente. Em Évora publica-se o “4º
            Livro das Instruções militares de Isidoro de Almeida”, a tradução do tratado
            de Levo, “Discurso dell’ ordine et modo di armare, compartire et exercitare
            la milizia del serenissimo duca di Savoia”,    “Diálog    discur  militar  de
            João da Fonseca, e, eventualmente, “Da forma dos exércitos, da fortificação
            dos redutos, das trincheiras, do tempo de sair delas ao inimigo, do modo de
            assaltalo e combatelo”, atribuído ao próprio rei D. Sebastião  (tabela 2). Foi
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            nesta ocasião, muito provavelmente, que o regimento de 1570 terá sofrido a
            apreciação crítica acima referida em função da experiência recolhida, dando
            origem às “provisões” publicadas em Maio do ano seguinte.






            18  BORREGO, 2006, p.876.
            19  BORREGO, 2006, p.867.
            20  Crónica do xarife Mulei Mahamete e de’l rei D. Sebastião. Int. e notas de Francisco de Sales
            Loureiro. Lisboa: Europress, 1989, p. 124.
               MACHADO,  Diogo  Barbosa  de  –  Bibliotheca  Lusitana,  Histórica,  Critica,  e  Cronológica,  v.3.
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            Lisboa: Ignácio Rodrigues, p.667.
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