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Cultura & Lazer .47
UMA VISÃO DA HISTÓRIA
O século XX trouxe novos desafios e uma
verdadeira revolução na Ciência e, de um modo
geral, em todas as áreas do conhecimento e da ação
humana. As extraordinárias descobertas do último
século, como também deste nosso século XXI, com
os elevadíssimos graus de especialização atingidos,
determinaram novas formas de pensar a Ciência e
novas condições para o seu exercício. Por outro lado,
as Artes e as Letras, ganharam novas reconfigurações
e modos de expressão, reflexo também da descoberta
de novos “mundos”, desde logo o desvendar do
universo potencialmente infinito do inconsciente. As
novas tecnologias representam, por seu turno, novas
formas de linguagem, de expressão e de representação
do conhecimento, e de construção desse mesmo
conhecimento, em dinâmicas (e até numa velocidade)
completamente inusitadas.
As instituições fundadoras e legitimadoras do saber
conhecem, neste contexto em acelerada mudança,
transformações e reconfigurações que intervêm na
mudança do seu tecido social, da sua organização
interna, das suas propostas programáticas, da
relação com a sociedade e seus valores dominantes,
concorrendo para aquele que é o seu “produto” final.
Também o Exército e as Forças Armadas estão hoje
empenhados em missões de amplíssimo alcance e
diversidade, com profissionais especializados em
praticamente todas as áreas do saber, da medicina, à
química e à física, das engenharias à informática, das Retrato da Rainha D. Maria I (Fonte: Academia das Ciências de Lisboa)
transmissões à inteligência artificial, como também
às ciências humanas, às letras e à história. Nestes
campos do saber, os militares têm marcado presença académicos, sociais, políticos e culturais de onde
entre os sócios da Academia. Dois ilustres exemplos emergem. Porventura, manter-se-ão as grandes
da atualidade são os do saudoso General Loureiro questões que alimentam a ciência e a ética, buscando
dos Santos e do General Pinto Ramalho, académicos uma resposta à altura da capacidade humana de
e pensadores, dois vultos maiores do Exército e da entender e operar sobre o seu meio, na procura
sociedade portuguesa contemporânea. do bem comum, da prosperidade das nações e do
Certamente que a natureza e funções da Academia desenvolvimento humano, hoje como ontem fazendo
serão hoje diversas do que eram nos seus primórdios. jus à divisa “Nisi utile quod facimus stulta est gloria”
Como diverso é o seu corpo de sócios e os meios (“Se não for útil o que fizermos a glória será vã"). JE
1 Conforme nota A.J. Silva as “necessidades estruturantes de reconfiguração do Estado moderno iam desde a determinação da figura da Terra à apropriação
cartográfica, topográfica e geográfica do território para fins militares, cadastrais, fiscais e infraestruturais.”, in Academia Real das Ciências de Lisboa (1779-1834):
Ciências e Hibridismo numa periferia europeia, Tese de Doutoramento, Lisboa, Universidade de Lisboa, 2015, pág. 102.
2 Não cabe, neste âmbito, desenvolver a história e a importância desta Instituição, no campo da Saúde em Portugal e dos progressos da medicina nos séculos
XVIII e XIX, o que naturalmente mereceria um estudo. aprofundado.
3 A primeira vacina havia sido desenvolvida pelo médico britânico Edward Jenner em 1796.
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