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do Grilo, onde manteve tertúlias literárias e científicas universitária, a formação militar. Nesse sentido e
com eruditos da época e onde reuniu uma importante porque a educação dos nobres e a definição do seu
biblioteca e uma galeria de pintura. Foi agraciado com papel social passavam pela ilustração nas letras e nas
a grã-cruz da Ordem Militar de Cristo e com a grã-cruz ciências, mas também pelo culto e adestramento na
da Legião de Honra de França. Faleceu aos 87 anos, ‘arte da guerra’, grande parte desta nobreza tivera
em Lisboa. A sua presença na Academia das Ciências, formação militar e passara pelo Exército ou pela
não sendo única, foi singular e pioneira. O seu legado Armada.
perpetuou-se até à atualidade e não faltam exemplos Por outro lado, é em finais do séc. XVIII que surgem
de militares de carreira que foram académicos e que as academias militares, instituições vocacionadas
dedicaram a sua vida à Ciência e à Arte. para o ensino, a par das universidades, sendo também
A presença militar na Academia das Ciências instituições maioritariamente ligadas às ciências e
tem sido uma constante desde a fundação, embora à matemática, que partilham com a Academia das
não se tratando de uma instituição de matriz militar. Ciências e outras instituições (designadamente as
Com efeito, a escolha de sócios para a Academia escolas médicas, as recém-criadas escolas politécnicas
era predominantemente feita na classe social da e os institutos industriais) um determinado “público”,
aristocracia, que tinha como modelo, com vista ao isto é, os seus sócios, leitores e estudiosos, que
desempenho de cargos públicos, a par da formação comungam áreas de interesse comuns. As funções
técnico-científicas da Academia, a par do ensino, serão
durante os séculos XVIII e XIX desempenhadas por
profissionais cada vez mais especializados, oriundos
das áreas das ciências exatas (matemática, astronomia,
cartografia, náutica), que são as áreas de onde emergem
e se afirmam os oficiais académicos.
A elegibilidade para a Academia das Ciências,
principalmente para sócios honorários, estava, nos
seus primórdios, reservada a um estatuto social
elevado, onde se incluíam a nobreza e a fidalguia
propriamente ditas, mas também os detentores de altos
cargos por exemplo, na Casa Real, na Fazenda Real,
no Conselho Ultramarino, etc., sendo extensível aos
bacharéis, licenciados e doutores, pela Universidade
de Coimbra, e aos oficiais do Exército e da Armada.
Com frequência, estes nobres ocupavam altos cargos
em acumulação, na administração pública, corte ou
Exército.
De entre os sócios iniciais da Academia, um número
significativo era titular de graduações militares,
também por inerência de funções e de cargos políticos
(caso dos reis ou reis consortes) - em 1780, cerca de
25% dos sócios honorários (cerca de 17% do Exército) e
22% dos sócios efetivos. Quanto aos supranumerários,
eram cerca de 11%. Na sua formação inicial constavam
quatro oficiais superiores do Exército, a saber, António
Rolim de Moura e Mendonça (1707-1782), Primeiro
Laboratório de 1890, Museu da Ciência da Universidade Conde de Azambuja, Fernão Teles da Silva Caminha
de Lisboa (Fonte: Researchgate.net) e Meneses (1754-1818), Terceiro Marquês de Penalva,