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                                                                                       POR OUTROS EXÉRCITOS






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            MANPADS - O que está em jogo










                          or ocasião do conflito na Ucrânia assistiu-se ao regresso   Míssil Portátil STARSTREAK (Reino Unido)
                          dos Man-portable Air-defense Systems – Sistema Míssil
                          Portátil (MANPADS) ao teatro de operações, uma si-
                          tuação que veio confirmar a importância estratégia do
               PShort Range Air Defense – Baixas e Muito Baixas Altitu-
            des (SHORAD), uma abordagem que tinha vindo a ser negligenciada
            pelo “mundo atlântico”, pese embora a sua relevância em teatros como
            o da Síria ou do Alto Carabaque, conflitos secundários para o dito
            Ocidente. Acresce que a falta de recurso a MANPADS em conflitos
            como o Afeganistão e o Iraque, que concentraram a atenção do Oci-
            dente, terá, contudo, contribuído para uma aparente redundância desta
            tipologia de armamento.
               Na prática, esta situação contribuiu para um progressivo abandono da
            produção de MANPADS, programas de modernização e melhoria desta tipo-
            logia de armamento. Este seria, no entanto, um fenómeno natural em matéria de
            evolução do armamento, mas que a natureza imprevisível de cada conflito contrariou.
               Assim, no caso concreto do teatro de operações ucraniano, o regresso dos MANPADS teve várias consequências, entre as
            quais se destaca a retoma da produção e do aperfeiçoamento das tecnologias associado a este tipo de armamento.
               Efetivamente, em 28 de março do corrente ano, os EUA lançaram, um novo programa para a produção de MANPADS,
            contudo, fruto do seu desinvestimento relativamente a este tipo de sistemas de armas, confrontaram-se com uma série
            de obstáculos e somente em 2023 irá dar-se início ao desenvolvimento de um novo protótipo, com industrialização
            prevista para 2027. Por exemplo, no que se refere à retoma da produção de modelos de MANPADS já existentes, como
            o americano FIM-92 STINGER, a única linha de produção encerrou em dezembro de 2020, sendo que, atualmente,
            algumas componentes já não são produzidas, sendo esta retoma um processo moroso que não se coadunará com a
            cadência e a eventual duração do conflito na Ucrânia.
               Este regresso dos MANPADS deve-se, sobretudo, ao efeito dissuasor que o emprego dos mesmos tem demonstrado
            ter junto da aviação russa, na medida em que se verificou no terreno um condicionamento dos pilotos russos. Estes
            não ousam assim aproximarem-se dos alvos, sob pena de ficaram sob o raio de ação dos MANPADS, correndo o risco
            de serem abatidos, uma situação que compromete a eficiência de qualquer ataque aéreo. Esta situação foi igualmente
            verificada no conflito na Geórgia, em 2008.
               Cumpre salientar, no entanto, que a relevância do emprego de MANPADS no conflito da Ucrânia decorre das
            vulnerabilidades da aviação russa, uma vez que não emprega mísseis teleguiados, obrigando os pilotos a aproximarem-se
            os alvos. Esta vulnerabilidade é assim eficazmente explorada pela Ucrânia e os países que a apoiam.
               Pese embora as estatísticas acerca do abate de aeronaves por parte de MANPADS ainda não permitam retirar ilações,
            surge a possibilidade de a entrega de vários modelos de MANPADS à Ucrânia servir propósitos táticos específicos, uma
            situação que se aventa favorável à evolução deste tipo de arma.


            Fonte : Défense Securité Internationale (DSI), n.º 84, Juin – Juillet, Hórs-Série 2022, pág. 20 a 24



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