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Atualidades .41
POR OUTROS EXÉRCITOS
[Rússia/Ucrânia]
MANPADS - O que está em jogo
or ocasião do conflito na Ucrânia assistiu-se ao regresso Míssil Portátil STARSTREAK (Reino Unido)
dos Man-portable Air-defense Systems – Sistema Míssil
Portátil (MANPADS) ao teatro de operações, uma si-
tuação que veio confirmar a importância estratégia do
PShort Range Air Defense – Baixas e Muito Baixas Altitu-
des (SHORAD), uma abordagem que tinha vindo a ser negligenciada
pelo “mundo atlântico”, pese embora a sua relevância em teatros como
o da Síria ou do Alto Carabaque, conflitos secundários para o dito
Ocidente. Acresce que a falta de recurso a MANPADS em conflitos
como o Afeganistão e o Iraque, que concentraram a atenção do Oci-
dente, terá, contudo, contribuído para uma aparente redundância desta
tipologia de armamento.
Na prática, esta situação contribuiu para um progressivo abandono da
produção de MANPADS, programas de modernização e melhoria desta tipo-
logia de armamento. Este seria, no entanto, um fenómeno natural em matéria de
evolução do armamento, mas que a natureza imprevisível de cada conflito contrariou.
Assim, no caso concreto do teatro de operações ucraniano, o regresso dos MANPADS teve várias consequências, entre as
quais se destaca a retoma da produção e do aperfeiçoamento das tecnologias associado a este tipo de armamento.
Efetivamente, em 28 de março do corrente ano, os EUA lançaram, um novo programa para a produção de MANPADS,
contudo, fruto do seu desinvestimento relativamente a este tipo de sistemas de armas, confrontaram-se com uma série
de obstáculos e somente em 2023 irá dar-se início ao desenvolvimento de um novo protótipo, com industrialização
prevista para 2027. Por exemplo, no que se refere à retoma da produção de modelos de MANPADS já existentes, como
o americano FIM-92 STINGER, a única linha de produção encerrou em dezembro de 2020, sendo que, atualmente,
algumas componentes já não são produzidas, sendo esta retoma um processo moroso que não se coadunará com a
cadência e a eventual duração do conflito na Ucrânia.
Este regresso dos MANPADS deve-se, sobretudo, ao efeito dissuasor que o emprego dos mesmos tem demonstrado
ter junto da aviação russa, na medida em que se verificou no terreno um condicionamento dos pilotos russos. Estes
não ousam assim aproximarem-se dos alvos, sob pena de ficaram sob o raio de ação dos MANPADS, correndo o risco
de serem abatidos, uma situação que compromete a eficiência de qualquer ataque aéreo. Esta situação foi igualmente
verificada no conflito na Geórgia, em 2008.
Cumpre salientar, no entanto, que a relevância do emprego de MANPADS no conflito da Ucrânia decorre das
vulnerabilidades da aviação russa, uma vez que não emprega mísseis teleguiados, obrigando os pilotos a aproximarem-se
os alvos. Esta vulnerabilidade é assim eficazmente explorada pela Ucrânia e os países que a apoiam.
Pese embora as estatísticas acerca do abate de aeronaves por parte de MANPADS ainda não permitam retirar ilações,
surge a possibilidade de a entrega de vários modelos de MANPADS à Ucrânia servir propósitos táticos específicos, uma
situação que se aventa favorável à evolução deste tipo de arma.
Fonte : Défense Securité Internationale (DSI), n.º 84, Juin – Juillet, Hórs-Série 2022, pág. 20 a 24
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