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6. Da Aclamação à Restauração 1640-1668
sendo a Guerra dos Trinta Anos responsável pela morte de 600 mil soldados,
num total de 10 a 12 milhões de europeus mobilizados .
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A guerra era, realmente, um assunto demasiado caro, a que não era alheia
a tecnologia empregue, decorrente do emprego crescente da pólvora. Desde
logo a artilharia. Apesar de onerosa e falha de mobilidade no campo de batalha,
era sabido que um tiro que atingisse um contingente militar compacto faria um
morticínio, influindo, por isso, na forma de conceber os dispositivos de combate,
com frentes mais longas e adelgaçadas. Mais importante, o seu poder de fogo
tornou obsoletas as muralhas dos castelos medievais. Como consequência, para
defesa das localidades ou controlo estratégico de determinadas áreas geográficas,
o castelo de altas muralhas a prumo, envolvendo a imponência de uma torre
de menagem, foi substituído pelo robusto forte abaluartado. Depois, a arma de
fogo ligeira, que passou a infantaria de bandos de indisciplinados, armados de
forma improvisada e heterogénea para um conjunto de unidades treinadas e
disciplinadas. A mutação não foi célere, nem a arma branca foi abandonada. A
invenção da platina de mecha, e consequente aparecimento do arcabuz, armou
elevadas percentagens de homens nas infantarias europeias, mantendo-se
uma permanente ligação nas formações de combate entre os arcabuzeiros e os
piqueiros. Posteriormente, o mosquete passou também a integrar o armamento
do infante. Com maior poder de fogo que o arcabuz e empregue contra formações
de cavalaria, era no entanto mais pesado e comprido, necessitando de uma
forquilha para disparar apoiado. Portanto, a partir do século XVII, os exércitos
tiraram partido da atuação conjunta de piqueiros e mosqueteiros. Os primeiros
podiam retirar margem de manobra tática a um contingente de cavalaria que
atacasse com lanças ou pistolas, enquanto os segundos protegiam os piqueiros
flagelando essa mesma carga pelo fogo .
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Com a utilização da pólvora nos meios de coação militares entra-se, assim,
na época técnica da arte da guerra, em que a tendência latente é a eliminação,
simultaneamente física e moral do adversário; a bravura cede o lugar à mecânica,
pois aquele que brandir a melhor arma e dela souber tirar o máximo proveito
técnico e tático, é o adversário mais temível, qualquer que seja a sua situação
social ou a sua coragem .
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PARKER, 1995, p. 37 e pp. 51-52.
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15 KEEGAN, 1995, p. 351.
16 SANTOS, Loureiro dos – Apontamentos de História para Militares Institut Alt
Es Militar 46-50.
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