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6. Da Aclamação à Restauração 1640-1668
tanto para ações de cerco, através de trabalhos de minas ou terraplanagem,
como para manobrarem nos campos de batalha, onde as formações de combate
variavam consoante o terreno e o inimigo .
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Mas nem só do corpo de elite dos tercios se constituíam os exércitos da
Monarquia Hispânica. Aliás, eram quantitativamente a parte menor do exército,
que recrutava mercenários valões, alemães, italianos, borgonheses, irlandeses,
flamengos e alemães em grande quantidade, utilizados como forças de ocupação
do terreno e para defesa das linhas de comunicação. Ou seja, a tropa mercenária
constituía 9/10 do contingente . Porém, se em 1590 era de 200 mil e em 1630
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de 300 mil, começaram subitamente a diminuir para 100 mil em 1650 e 50 mil
em 1690 , como consequência da recessão demográfica e financeira.
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Entretanto, a capacidade dos exércitos e a eficiência dos tercios
hispânicos foi-se esbatendo. A derrota de Rocroi, em 1643, seguida da de Lens,
em 1648, ante o contingente francês, pôs em evidência as fragilidades militares
hispânicas . O esvaziamento da capacidade de recrutar no interior peninsular
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e o crescente abandono e inatividade pelos nobres das obrigações militares,
obrigou ao recrutamento de miseráveis e maltrapilhos da sociedade, influindo
sobremaneira no valor combativo e espírito patriótico do soldado. De tal forma
que “em meados do século XVII, a terrível máquina de guerra que era a infantaria
espanhola era uma sombra de si própria” .
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O modelo francês é uma versão melhorada do sueco. Sabemos que, até
1635, a França foi um ausente/presente da Guerra dos Trinta Anos pois, até essa
altura, o cardeal Richelieu fez do exército sueco o seu instrumento privilegiado
no conflito, que apoiava diplomática e financeiramente. A morte de Gustavo
Adolfo na batalha de Lutzen (1632) e a derrota que as forças suecas sofreram
na batalha de Nordlingan (1634), ante os tercios do Cardeal Infante Fernando
da Áustria, impeliu Richelieu a envolver-se diretamente no conflito, apesar de o
25 O’DONNELL, Hugo e ESTRADA, Duque de – Los Tercios, la Máquina de Guerra História
(outubr 34-36.
26 MONTEIRO MAR J A Península Ibérica no Século XVII. Mem Martins: Publicações
Europa-América, 2002, p. 40.
27 KENNEDY, Paul – Ascensão e Queda das Grandes Potências: Transformação Económica e Militar
de 1500 a 2000. Vol. I. Rio de Janeiro: Editora Campos, 1985, p. 84.
28 Os tercios destruídos por Condé na Batalha de Rocroi tinham uma média de 1000 homens cada,
ou seja, um terço do estipulado (LIVESEY, 1990, p. 66).
29 MONTEIRO e MARCADÉ, 2002, p. 42.
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