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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            judiaria financeira – ameaça indireta; isolamento externo de Portugal – coação
            diplomática. Portanto, incapaz de desenvolver uma ação militar de aniquilamento
            capaz de impor a reabsorção de Portugal, a Monarquia Hispânica adotou um
            conjunto minimalista de manobras estratégicas que se revelariam insuficientes,
            protelaram a sua resolução e permitiram um facto consumado .
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                  Face  à  conjuntura,  os  Restauradores  assentaram  três  desígnios:  1)
            legitimar  a  Dinastia  de  Bragança  junto  das  potências  da  Europa  inimigas
            da  Monarquia,  com  especial  incidência  na  católica  França  e  nos  Estados
            protestantes,  com  destaque  para  a  Inglaterra  (persuasão  diplomática).  O
            objetivo consistia em evitar o isolamento externo, não assumir compromissos
            incomportáveis e não ficar dependente de uma única potência; 2) recuperar
            a  soberania  nos  domínios  ultramarinos,  perdida  durante  a  União  Ibérica,
            principalmente o Nordeste do Brasil e Angola, imprescindíveis para sustentar
            economicamente  o  «Portugal  Restaurado»  (diplomacia  e  guerra  face  às
            Províncias  Unidas/Holanda);  3)  defesa  do  espaço  fronteiriço  metropolitano
            contra  a  Monarquia  Hispânica  –  estratégia  militar .  Assim,  procuraram
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            aproveitar a ligeireza política de Madrid face ao ocorrido na capital portuguesa
            e capitalizar a favorável conjuntura europeia, garantindo a liberdade de ação
            internacional que amiúde faltou a Filipe IV.

                  Para  dar  corpo  a  esta  ideia  estratégica,  encetou-se  a  reorganização
            estrutural do reino. D. João IV, que assumiu a responsabilidade pela estratégia
            integral, apoiou-se em quatro conselhos: Conselho de Estado, responsável pela
            condução da política interna e europeia; Conselho da Fazenda, que executava
            funções de natureza económico-financeira relativas ao continente e ao Império;
            Conselho Ultramarino, responsável pela administração das possessões coloniais,
            excetuando  as  africanas;  Conselho  de  Guerra,  que  decidia  sobre  questões
            militares.  Os  «eleitos»  para  estes  órgãos  provêm  da  alta  nobreza,  da  mais
            elevada hierarquia clerical ou de homens de leis (burguesia togada), estando
            vedados ao burguês e à arraia-miúda a possibilidade de opinar acerca dos mais
            importantes assuntos da Coroa.

                  Mas enquanto decorria o trabalho de legitimação dos diplomatas e se
            decidia como recuperar o Ultramar, a ameaça mais premente a anular era a


            38  LOUSADA, Abílio Pires – A Restauração Portuguesa de 1640. Diplomacia e Guerra na Europa do
            Século XVII. Lisboa: Instituto de Estudos Superiores Militares/Fronteira do Caos, 2012, pp. 191-193.
            39  Idem, Ibidem, pp. 188-191.
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