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6. Da Aclamação à Restauração 1640-1668
orográficas e hidrográficas da linha de fronteira; os efetivos que a Espanha,
em guerra generalizada na Europa, estava em condições de dispensar para
acometerem Portugal; os contingentes que o inimigo tinha aquartelado nas
zonas de fronteira; perceber que itinerários e áreas territoriais favoreciam as
marchas e as manobras militares dos tercios; discernir a partir de que ponto da
fronteira o acesso a Lisboa era mais direto.
Olhando para a limitação de efetivos, a necessidade de ligação com as
províncias à retaguarda e a condução de uma campanha curta no tempo e
no espaço, era previsível que as tropas de Filipe IV utilizassem o Alto Alentejo
como zona de operações principal, atendendo que dava continuidade às regiões
estremenha e andaluza, de onde os hispânicos mais facilmente podiam abastecer
e reforçar o esforço militar, dada a existência de aquartelamentos e fortificações
nessas regiões. Isso ficou claro a partir do momento em que foi criada a Junta
de Guerra de Extremadura y Algarve, em fevereiro de 1641, e organizado o Real
Ejército de Extremadura, constituindo Badajoz a zona de concentração de tropas
e de lançamento de uma ofensiva, segundo a direção de progressão Badajoz-
-Elvas-Estremoz-Évora-Lisboa.
De facto, a zona de operações do Alentejo era a “mais importante,
situaç geográfic relaç extensão
características geo-físicos que apresenta, pelas relações estratégicas que tem
com as mais importantes zonas de concentração espanhola” . Com amplo
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espaço de manobra, «convida» ao emprego de grande volume de forças e a
batalhas em campo aberto, constituindo claramente um teatro que favorece as
operações ofensivas.
Complementando a raia alentejana, o inimigo tinha alternativas
complementares para invadir Portugal: a norte do Douro, o eixo Braga-Porto
seria passível de desligar a Região de Entre Douro e Minho do resto do país.
Através de Tuy ou Salvaterra da Galiza, os espanhóis tinham o Lindoso e a
Portela do Homem como «portas de entrada» e Valença, Monção e Melgaço
como praças a ultrapassar; na região montanhosa de Trás-os-Montes, os acessos
estavam barrados pelas localidades de Chaves, Vinhais, Bragança e Miranda. Só
pela várzea de Chaves o exército invasor encontraria condições de progressão
aceitáveis, onde a ligação a Braga poderia facilitar a conjugação com o teatro
46 CABRAL, Miranda – Conferências sobre Estratégia. Estudo Geo-Estratégico dos Teatros de
Operações Nacionais. Vol. II. Lisboa: Maurício e Monteiro, 1932, p. 279.
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