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6. Da Aclamação à Restauração 1640-1668

               processo de recrutamento assente no sistema de ordenanças, que fornecesse
               um exército permanente e profissional, pelo menos enquanto durasse a guerra,
               e  um  vasto  contingente  de  milícias  e  auxiliares  para  os  momentos  da  maior
               urgência e necessidade.
                     Foi nas Cortes de 1641 que se estabeleceu o sistema de recrutamento, a
               organização dos efetivos militares e as suas missões. O recenseamento, realizado
               nas comarcas pelos corregedores, abrangia todos os homens válidos dos 16 aos
               60 anos e permitia, através do sistema de ordenanças, efetuar o recrutamento
               militar. Uma das preocupações era colocar cada cidadão a servir numa guarnição
               da sua região de origem, de forma a restringir as deserções, incutir ânimo a
               cada soldado que pegasse em armas e a não provocar o abandono das áreas de
               cultivo. Importava evitar o desenraizamento das pessoas, o que nem sempre
               aconteceu, atendendo que o esforço de guerra foi desigual entre as províncias
               e o «balanceamento» de efetivos uma necessidade. O recrutamento de todos

               os homens capazes de contribuir para o esforço de guerra competia ao capitão-
               -mor respetivo, que distribuía os efetivos, após serem selecionados, por cada
               um dos escalões do Exército.
                     Depois, apoiadas numa estimativa (sobreavaliada) populacional de dois
               milhões de pessoas, que através de impostos suportariam a manutenção de
               um exército com carácter de permanência, as Cortes de 1642 deliberaram a
               constituição de um Exército de Linha constituído por 20 mil infantes e 4 mil
               cavalos, organizados em terços de infantaria e companhias de cavalaria. Num
               e  noutro  caso,  os  oficiais  eram  recrutados  na  nobreza,  sendo  diretamente
               nomeados pelo rei. O recrutamento de soldados para a infantaria, que era
               feito mediante sorteio através das listas de ordenanças, compreendia os filhos
               segundos de todas as classes, exceto os órfãos de pai e os lavradores. Para a
               cavalaria, os soldados eram recrutados entre os filhos segundos da nobreza,
               pois o seu exercício era uma prerrogativa senhorial.
                     O Regulamento das Levas, que orientava o recrutamento, procurou fixar
               o serviço ativo no Exército de Linha por um período de seis anos, modalidade
               exigível para o necessário adestramento das tropas, disciplina e experiência
               de guerra . Constituindo o braço armado permanente do reino, este exército
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               tinha nas suas fileiras um contingente que deveria receber soldo durante todo

               54  RODRIGUES, Barros – Organização Dos Exércitos, Organização Militar Portuguesa, Estratégia,
               Geografia e História. Secção IV. História Militar. Lisboa: Escola do Exército, 1935-1936, p. 537.

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