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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
o ano e seria alimentado, equipado e aquartelado pela coroa. O seu carácter
permanente garantia a estabilidade fronteiriça, dando consistência defensiva
à rede de fortificações implantada em cada teatro de operações.
Compreensivelmente, a organização da infantaria portuguesa orientava-
-se, nesta fase, pela hispânica, não só porque muitos dos fidalgos portugueses
com experiência de guerra tinham servido a coroa de Madrid na Flandres, na
Itália e na Alemanha, como porque os tercios eram um modelo europeu de
organização militar . Assim, o terço português era uma cópia do «vizinho»
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quanto à composição e articulação das forças, missões atribuídas, tática
utilizada e meios empregues. Quanto muito, variavam os quantitativos,
sempre dependentes dos meios humanos disponíveis, que em Portugal não
abundavam .
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Sendo o Exército de Linha talhado, essencialmente, para ações defensivas,
não admira que, quando em combates em campo aberto, se adotassem as
formações de piqueiros, de cuja proteção se aproveitavam os arcabuzeiros para,
sempre que possível, desbaratar pelo fogo as tropas inimigas que manobrassem
de forma desconexa ou pouco coesa. Como os arcabuzeiros eram, teoricamente,
os mais independentes e flexíveis na ação, que podiam conjugar o fogo
com alguma capacidade de choque, sempre que as companhias dos terços
ultrapassavam a dezena (o que não era a norma) formavam-se companhias só
de arcabuzeiros. No que toca aos mosqueteiros, o alcance e a potência do seu
fogo era aproveitado como uma espécie de artilharia ligeira, fazendo do fogo de
flagelação a sua principal razão de atuar. Seja como for, o número de piqueiros
e arcabuzeiros era similar. Como se referiu, a cavalaria estava organizada em
companhias, cada uma com 100 ginetes e comandadas por capitães. Havia a
cavalaria ligeira, constituída por couraceiros, e a pesada, os Dragões, criadas em
1642, que mais não eram que arcabuzeiros montados .
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Mas, se a característica do Exército de Linha traduzia em Portugal um
vislumbre de exército permanente, era através das tropas auxiliares que os
55 MATTOS, Gastão de Melo – O Sentido da Crise Política de 1667. Lisboa: 1944, p. 5.
56 A norma era os terços terem quantitativos da ordem dos 2 mil homens, constituídos por
Companhias de 200 homens, sendo comandados por um mestre de campo.
57 BARREIROS, José Baptista – Subsídios Para a História da Guerra da Restauração, Documento
relativo a um contrato entre a Rainha Regente e o Cabido e a Câmara de Braga Efectuado em
1659. Braga: Edição da Delegação Bracarense da Sociedade Histórica da Independência de
Portugal, s/d, p. 10.
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