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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            campos em disputa se valeram de forças irregulares. Os miguelistas recorreram
            aos voluntários realistas, e os liberais aos chamados batalhões nacionais. Os
            primeiros, constituídos em batalhões ou companhias, integravam homens entre
            os dezoito e os quarenta e cinco anos, a quem se exigia um bom comportamento
            civil, religioso e político, para além de catorze anos de serviço.
                  A  adesão  popular  a  estas  unidades  foi  escassa,  e  para  isso  contribuiu
            a  obrigação  de  serem  os  voluntários  a  pagarem  os  seus  uniformes,  e  a
            impossibilidade de abandonarem as atividades profissionais de onde retiravam
            o sustento dos respetivos agregados familiares. Pensados para o desempenho
            de funções de segurança interna, estas unidades acabaram por ser utilizadas
            em campo de batalha e na repressão dos movimentos liberais, sendo por isso
            extintas após o fim da guerra civil.
                  No  setor  liberal,  por  seu  turno,  formaram-se  os  chamados  batalhões
            nacionais. Para estes, previa-se o serviço obrigatório no decurso do conflito, e
            a desmobilização dos soldados mal a guerra terminasse. Como seria expectável
            nada disso se verificou. O seu valor enquanto ferramenta de enquadramento
            político era por demais valioso e estes corpos irão perdurar por várias décadas.
            Alvos  de  frequentes  remodelações  e  projetos  de  extinção,  hesitaram  entre
            o  voluntariado  e  a  conscrição  assim  como  nos  mecanismos  funcionais  de
            alistamento, mas estiverem presentes quando o setembrismo procurou suster
            a reação cartista e foram importantes para enfrentar os distúrbios provocados
            pela patuleia.
                  Terminada a guerra, os corpos de 1ª linha encontravam-se espalhados
            por todas as províncias do país, procurando cobrir a maior extensão possível
            do terreno, e para além das suas missões militares também se ocupavam com
            tarefas de segurança, por virtude da ausência de uma força de cariz policial ,
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            destacando-se o exemplo da cavalaria cujas escoltas eram indispensáveis para o
            bom funcionamento do serviço dos correios. Não obstante ser essa a realidade,
            o exército não a encarava de bom grado, pois implicava um acréscimo de funções
            burocráticas para os comandantes de divisão, obrigados a ocupar parte do seu
            tempo em contactos com os administradores gerais de distrito e os juízes de



            16  Em 22 de fevereiro de 1839, criaram-se corpos de segurança pública para todos os distritos do
            reino, tendo-se considerado a possibilidade de recorrer a tropas de linha para a sua constituição.
            A insuficiência de soldados de linha e a dificuldade em lhes pagar, obrigou a criar aqueles corpos
            apenas nos centros urbanos.
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