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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            universitários  só  seria  aplicada  no  caso  de  eles  se  alistarem  nos  batalhões
            académicos.
                  Para  além  disso,  permanecia  a  odiosa  possibilidade  de  substituição,
            permitindo,  aos  abastados,  a  benesse  de  se  eximirem  ao  serviço  pagando
            compensações irrisórias a quem se mostrasse disponível para os substituir.
                  Afixados os editais, procedia-se ao sorteio público e os mancebos, deste
            modo escolhidos, entravam de imediato ao serviço por um período de sete anos
            (contado após o juramento de bandeira), concedendo-se uma redução de um ano
            de serviço aos voluntários. Os sorteados que não comparecessem nos depósitos
            de  recrutamento  no  dia  e  hora  destinado,  eram  considerados  desertores  e
            coagidos a cumprir um tempo extra de três anos de serviço, para além das penas
            previstas nos regulamentos militares, as quais, em tempos de paz, passavam
            por prisão e trabalhos forçados. Isto, claro está, quando era possível capturar
            os recrutados em falta, situação na verdade sempre muito problemática, por
            consequência do auxílio que lhes era concedido pelas populações.
                  No final do ano este projeto de lei foi aprovado com algumas emendas
            de pormenor sugeridas pela Comissão Parlamentar da Guerra, tornando-se na
            primeira lei do recrutamento, pós-revolução liberal. Contudo, chegados a 1839
            apenas  se  teriam  recrutado  2000  homens  dos  ambicionados  8700.  António
            Fernandes Coelho (1807-1886), então ministro do reino, justificou tal facto pelo
            «inveterado horror (do povo) ao tributo de sangue, e onde os mancebos sorteados
            para o recrutamento fogem, evadem-se, querem antes viver vida de vagabundos,
            de salteadores, do que sujeitarem-se voluntários ao serviço militar» , mas, a tal
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            realidade ainda se deveria acrescentar as dificuldades originadas pela deficiente
            organização administrativa dos concelhos, a impossibilidade de se proceder a
            recenseamentos fiáveis, a escassez de funcionários e o compadrio instalado nas
            juntas de paróquia.
                  Assim,  e  num  contexto  de  insegurança,  quando  os  poderes  políticos
            manifestavam o desejo de apoiar os liberais espanhóis perante a reação carlista,
            e  as  guerrilhas  absolutistas  continuavam  ativas  em  diversas  regiões  do  país,
            nomeadamente nas serras algarvias, onde mesmo após a morte do Remexido
            (José Sousa Reis 1796-1838) a luta continuava intensa, o governo desmultiplicou-
            -se em diretivas, pretendendo aumentar os quantitativos de homens em serviço
            efetivo, os quais não excederiam os 13 mil soldados.


            17  Diário da Câmara dos deputados, sessão 44, 26 de fevereiro de 1839, p. 409.
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