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da inflamação, sugerindo que consoante o lo- cular, promovendo um aumento da massa e força
cal de produção seja o miócito ou o adipócito, musculares. Paralelamente, verifica-se um incre-
a IL-6 tem efeitos distintos, i.e. anti-inflama- mento da biogénese mitocondrial e da vascula-
tórios ou pró-inflamatórios, respetivamente. rização das estruturas musculares, otimizando a
A IL-6 muscular para além de exercer fun- sua atividade metabólica. Desta forma, o músculo
ções no metabolismo energético possui um esquelético fica mais sensível à ação da insulina e
papel importante na redução da inflamação. aumenta a captação de glucose sanguínea, redu-
O aumento desta mioquina durante o exercí- zindo o risco de doenças como a diabetes tipo 2.
cio físico é responsável pelo incremento dos Por sua vez, comportamentos sedentários favo-
níveis sanguíneos de agentes anti-inflamató- recem a atrofia muscular, o desenvolvimento da
rios como a interleucina-10 (IL-10) e a hormo- síndrome metabólica e a diminuição da flexibili-
na cortisol. Para tal, contribui igualmente um dade metabólica, ou seja, o organismo torna-se
acréscimo da libertação de catecolaminas, incapaz de alternar os substratos energéticos em
como é o caso da adrenalina, decorrentes jejum e após as refeições.
da prática de exercício físico, sobretudo o de À semelhança do músculo esquelético, o te-
maior intensidade.
cido ósseo também beneficia do exercício físico,
O balanço energético decorrente do exercí- sobretudo quando envolve algum impacto. O po-
cio físico e da alimentação é determinante para tencial osteogénico do exercício induz o aumento
o tecido adiposo total, nomeadamente o tecido do conteúdo mineral ósseo, a otimização da geo-
adiposo abdominal que está associado à inflama- metria do osso e o aumento da força e resistência
ção sistémica de baixo grau. De facto, sobretudo à fratura, prevenindo ou atenuando o desenvolvi-
quando o exercício físico é praticado em intensi- mento da osteoporose. Isto é particularmente re-
dades mais baixas e com longa duração, a mobi- levante em pessoas idosas, cujo risco de fratura é
lização das reservas lipídicas aumenta, inclusiva- mais elevado, e em mulheres pós-menopáusicas,
mente as que se encontram no tecido muscular. quando as perdas de conteúdo mineral ósseo se
Do ponto de vista funcional, considera-se o tecido acentuam.
adiposo castanho, com funções termogénicas de Os efeitos do exercício físico no cérebro
produção de calor, e o tecido adiposo branco, que refletem-se em duas dimensões: estrutural e
é responsável pelo armazenamento das reservas funcional com impacto na função cognitiva. Na
lipídicas e, ao mesmo tempo, pela produção das dimensão estrutural, entre outras alterações,
adipoquinas pró-inflamatórias. O sedentarismo observa-se o aumento da neurogénese, ou seja,
reduz o tecido adiposo branco e o tecido adipo- a formação e diferenciação de novos neurónios,
so castanho e, consequentemente, pode induzir da vascularização, do volume da massa cinzenta
um estado de inflamação sistémica com poten- e da integridade da massa branca. Do ponto de
cial patogénico. O exercício físico, sobretudo atra- vista funcional, ocorre um aumento da conexão
vés da produção de mioquinas anti-inflamatórias das diferentes áreas cerebrais, i.e., dos diferen-
como a irisina, favorece um “acastanhamento” do tes lobos, uma melhoria das redes sinápticas e
tecido adiposo branco, aumentando, por exemplo, o aumento da libertação de neurotrofinas. Um
o seu conteúdo mitoncondrial e diminuindo a se- dos efeitos mais marcados do exercício físico no
creção de adipoquinas pró-inflamatórias.
âmbito da saúde cerebral é o fator neurotrófi-
O músculo esquelético é o maior reserva- co derivado do cérebro, vulgarmente designado
1
tório de glucose exógena, que se armazena na como BDNF . Esta proteína é sintetizada no cére-
forma de glicogénio, a qual é utilizada para a bro, pelos neurónios, pelo músculo esquelético e
produção de energia. O exercício físico, nomea-
damente o treino de força, melhora a saúde mus- 1 Brain Derived Neurotrophic Factor.