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Porquê o Exercício Físico?
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TEXTO: LUÍS BETTENCOURT SARDINHA PRESIDENTE DA FACULDADE DE MOTRICIDADE HUMANA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
O movimento humano é necessário para tratibilidade (i.e., capacidade do músculo contrair
garantir um apropriado crescimento e desenvol- e produzir força), a excitabilidade (capacidade de
vimento, assim como para assegurar o funciona- responder a estímulos), a extensibilidade (possi-
mento do organismo com longevidade. De uma bilidade do músculo alongar-se para além do seu
forma mais singularizada e de acordo com proce- comprimento normal) e a elasticidade (capacida-
dimentos de prescrição e programação, o treino de dos músculos retomarem o seu comprimento
promove adaptações ainda mais especializadas original).
conducentes ao rendimento humano em diver-
sos âmbitos como no desporto e na ação militar. O músculo esquelético foi genericamen-
te compreendido e sobretudo valorizado numa
A resposta aguda e a adaptação crónica aproximação desportiva e biomecânica, com o
ao exercício envolvem o aumento da síntese de intuito de produzir força e movimento para a oti-
proteínas em vários órgãos, tecidos e células, as mização do desempenho. Mais recentemente,
designadas exerquinas, que influenciam o meta- reconheceu-se que o músculo-esquelético tem,
bolismo dos próprios órgãos onde são sintetiza- para além de uma função determinante na motri-
das, e também outros órgãos próximos ou mais cidade humana, uma função fisiológica relevante,
distantes numa rede complexa em que todos funcionando como um órgão endócrino capaz de
comunicam e se influenciam entre si. Diversas sintetizar múltiplas proteínas com ação anti-in-
exerquinas sintetizadas no músculo esquelético flamatória que influenciam o seu próprio funcio-
(mioquinas), no músculo cardíaco (cardioquinas), namento e a integridade dos restantes órgãos e
no fígado (hapatoquinas), nos adipócitos (adipo- tecidos do organismo. A síntese destas proteínas
quinas) e também nos neurónios (neuroquinas) anti-inflamatórias decorre necessariamente do
exercem uma melhoria sistémica nas funções processo de ação muscular que se verifica so-
cardiovascular, metabólica, imunitária e neuroló- bretudo, e de forma mais expressiva, durante a
gica. prática de exercício físico. Simultaneamente, ex-
De forma integrada e sinérgica com diver- ponencia a atividade do sistema imunitário, redu-
sos sistemas do organismo, as células do tecido zindo o risco de várias doenças, nomeadamente
muscular funcionam como motores de produção as do trato respiratório, do cancro e da diabetes.
de força responsáveis pelo movimento humano e Estas ações musculares têm atualmente uma
têm uma função relevante nas adaptações cró- função coadjuvante na prevenção e melhoria
nicas sistémicas do organismo. Distinguem-se 3 de várias doenças, contrariando o processo in-
tipos de músculo – o esquelético, o liso e o car- flamatório sistémico frequentemente observado
díaco – cujas principais funções são: movimento em pessoas com excesso de peso ou obesidade,
humano e manutenção da postura corporal, res- e ainda durante o envelhecimento para que se
piração, produção de calor, regulação da cons- preserve a massa muscular determinante para a
trição de órgãos e vasos e frequência cardíaca. independência funcional e para que se constitua
Tal só é possível atendendo às 4 caraterísticas como uma importante fonte para a síntese destas
funcionais do músculo, nomeadamente a con- proteínas salutogénicas.
* Diretor do Laboratório de Exercício e Saúde, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa.