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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  Foi,  fundamentalmente  por  via  da  mobilização  que  a  guerra  marcou
            profundamente a sociedade portuguesa e as suas consequências económicas,
            sociais  e  políticas,  que  tiveram  uma  amplitude  extraordinária,  acabando  por
            contribuir para o fim do regime político do Estado Novo. A questão colonial
            revelou-se como o maior problema de um modelo político que acabou isolado no
            sistema internacional, sem o apoio dos seus aliados, criticado pela Organização
            das Nações Unidas (ONU) e até pela Igreja em Roma.
                  Durante  13  anos,  o  Governo  português  empenhou  imensos  recursos,
            mas foi incapaz de encontrar uma solução política para o problema colonial. Na
            Ásia e em África eram já conhecidos outros conflitos semelhantes, em que as
            estratégias baseadas essencialmente na vertente militar não tiveram sucesso,
            mas apesar disso, da perda da Índia Portuguesa (1961) e da atitude dos nossos
            principais  aliados,  a  direção  política  da  guerra  resignou-se  ao  princípio  do
            “orgulhosamente sós”.
                  A  prolongada  guerra  em  África  (1961-1974)  também  designada  por
            Guerra do Ultramar ou Guerra Colonial, deu origem a um gradual afastamento
            entre  a  sociedade  civil  e  os  seus  governantes  e  a  difícil  situação  militar  na
            Guiné e em Moçambique, acabou por originar a rotura entre alguns militares
            e o poder político. Entre outros indicadores, os dados que apresentamos sobre
            o recrutamento, a emigração e a fuga dos jovens ao serviço militar, revelam o
            afastamento  da  sociedade  portuguesa  relativamente  à  guerra,  mas  mostram
            também  o  sacrifício  feito  por  milhares  de  homens  que  cumpriram  o  serviço
            militar obrigatório durante 3 a 4 anos, com uma comissão de 2 anos em África.
                  Apesar do isolamento político internacional, das dificuldades na obtenção
            de equipamento militar devido às resoluções da ONU e à recusa de fornecimentos
            por parte de diversos países aliados, o aparelho militar de Portugal contou com o
            empenhamento dos seus recursos humanos, como nunca antes tinha acontecido,
            durante tantos anos seguidos. desde a guerra da Restauração (1640-1668), nas
            Invasões Francesas (1807-1811) e mesmo na Grande Guerra (1914-1918) nunca
            antes em Portugal se tinha organizado e realizado um sistema de recrutamento
            e de mobilização militar com a dimensão do que aconteceu durante o período
            entre 1961 e 1974.







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