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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)
e dimensão das mesnadas com que esses nobres eram obrigados a apresentar-se
sempre que convocados para integrar a hoste régia. Mas não foi apenas junto
dos ricos-homens que a Coroa actuou no sentido de reformular as condições da
prestação do serviço militar. Com efeito, por volta de 1269, as soldadas pagas
por Afonso III abrangiam igualmente os estratos inferiores da nobreza e os
membros da sua mesnada . E não foi apenas o monarca a adoptar este sistema de
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remuneração. Como seria de esperar, muitos foram os nobres que, percebendo
o alcance dessas medidas, recorreram também ao pagamento de soldadas para
assegurar a fidelidade e o contributo militar de alguns dos seus vassalos .
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Por constituírem um rendimento fixo, estas remunerações desempenha-
vam um importante papel na economia daqueles que as recebiam. Por isso, mui-
tos eram os que, tentados por ofertas mais generosas, não hesitavam em mudar
de senhor, mesmo que isso os convertesse no alvo de algumas críticas como
sucedeu com Fernão Vasques Pimentel, asperamente visado numa composição
do trovador João de Gaia, na qual era comparado a um asno que se vende no
mercado, porque no curto espaço de tempo de seis meses fizera parte de três
casas senhoriais .
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E se este modelo de remuneração parece ter aquietado a nobreza até
ao final do reinado de Afonso III, assim que D. Dinis ascendeu ao trono, os
protestos voltaram a fazer-se ouvir. É isso que se deduz da escassa participação
de nobres dos cercos a Castelo de Vide, em 1281 e a Arronches, em 1287,
operações militares integradas nos conflitos armados que opuseram o rei ao
seu irmão, o infante D. Afonso . Contudo, o problema estaria já ultrapassado
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em 1296, aquando da intervenção portuguesa na guerra civil castelhana, muito
provavelmente porque entre 1287 e esta data o rei procedeu a um aumento
substancial dos valores das soldadas, como é sugerido pelo conde D. Pedro na
Crónica Geral de Espanha de 1344 , mas também porque conseguiu, através
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9 Ordenações d´El Rei Dom Duarte. Ed. preparada por Martim de Albuquerque e Eduardo Borges
Nunes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1988., p. 57, de 1266, Abril, 11.
10 MARTINS, 2014, pp. 37-38.
Cantigas d´Escarnho e de Mal Dizer dos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses. Ed. crítica
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e vocabulário de Manuel Rodrigues Lapa. Lisboa: João Sá da Costa, 1995, Cantiga 198, p. 136;
SOUSA, Bernardo Vasconcelos e – Os Pimentéis: Percursos de uma Linhagem da Nobreza Medieval
Portuguesa (séculos XIII-XIV). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2000, pp. 132-137.
12 MARTINS, 2014, pp. 38-39.
Crónica Geral de Espanha de 1344. Ed. de Luís Filipe Lindley Cintra. Lisboa: Imprensa Nacional-
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-Casa da Moeda, 1990, vol. 4, Cap. DCCXIX, p. 243.
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