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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
                  da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)

               montados – para isso o senhor podia, inclusivamente, fornecer armas e cavalo
               aos seus vassalos –, condições que possibilitavam um rigoroso planeamento das
               campanhas  militares.  Este  novo  sistema  de  mobilização  da  nobreza  permitia
               ainda  fixar  limites  temporais  de  um  máximo  de  três  meses  de  serviço,  sem
               qualquer remuneração adicional , embora sempre que o contributo do vassalo
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               e  da  sua  mesnada  continuasse  a  ser  necessário,  esse  período  pudesse  ser
               alargado mediante a entrega de um soldo de valor proporcional aos dias de
               serviço extra .
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                     Para uma gestão eficaz de todo este modelo de recrutamento existiam
               os “Livros dos Vassalos” – atestados, aparentemente, no tempo de D. Afonso
               IV, mas que muito provavelmente teriam a sua origem no reinado de D. Dinis
               – organizados segundo comarcas. O nome do vassalo seria, assim, registado no
               livro correspondente à comarca onde residia e assinalado também, pelo menos,
               o valor da contia que auferia. Assim, quando o rei necessitasse de recorrer aos
               seus  serviços  bastava-lhe  consultar  cada  livro  para  saber  quantos  e  quais  os
               vassalos com que podia contar numa determinada região e, através do valor que
               era pago, perceber qual a composição/dimensão dos contingentes que estavam
               obrigados  a  apresentar .  Estes  livros  deviam  ser  regularmente  actualizados,
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               não só para registar os novos vassalos, como também para dar baixa daqueles
               que, entretanto, haviam morrido, tinham sido “pousados” ou, em alguns casos,
               abandonado a vassalidade régia, e ainda, para proceder a eventuais alterações
               dos valores das contias e, consequentemente, do número de lanças que cada
               um deles devia apresentar. E seriam também estes livros que serviam de base
               para que, através dos corregedores, se procedesse a uma fiscalização apertada
               e regular dos vassalos e aferir a qualidade e o bom-estado das suas armas e dos
               seus cavalos .
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                     Apesar  de  estes  pagamentos  obrigarem  os  vassalos  a  apresentar-se
               acompanhados por uma mesnada composta por combatentes bem armados e
               bem montados, tal nem sempre se verificava, em boa medida porque o modelo


               29  Chancelarias Portuguesas: D. Afonso IV, Vol. 2, doc. 115, p. 211, de 1338, Agosto, 3; e VEIGA,
               Augusto Botelho da Costa – A Nobreza de Corte de Afonso III, Coimbra, Faculdade de Letras da
               Universidade de Coimbra, (Dissertação de Doutoramento, policopiada), 1936, Vol. 1, p. XXXII.
               30  MONTEIRO, João Gouveia – A Guerra em Portugal nos Finais da Idade Média. Lisboa: Notícias,
               1998, p. 36.
               31  Crónica de D. João I, Vol. 2, Cap. LXX, p. 179.
                 MARTINS, 2014, pp. 48-49.
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