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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)
esperar um contributo militar substancial: contingentes numerosos, bem
armados e convenientemente montados. Mas eram os infantes que, no quadro
da vassalagem régia, auferiam montantes mais avultados. Veja-se o caso de D.
Afonso, filho de D. Dinis, que atribuiu ao seu filho D. Pedro uma contia que, de
início, rondava as 5000 libras, mas que rapidamente ascendeu a 24.000 libras .
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Contudo, grande parte dos membros da nobreza ficava-se por remunerações
que, em média, não ultrapassavam as 1500 libras 39
Para formar as suas mesnadas, os vassalos do rei – tal como muitos outros
nobres – lançavam mão, em primeiro lugar, dos membros da sua entourage e,
entre estes, os primeiros a ser convocados eram, naturalmente, os seus vassalos,
os servidores que habitualmente os acompanhavam, bem como os indivíduos
que residiam e trabalhavam nos seus senhorios e nas terras sobre as quais tinham
jurisdição. Eram, assim, mobilizados – frequentemente de modo compulsivo –
mesteirais, camponeses e pastores, por vezes armados com pouco mais que um
chuço ou uma foice presa a uma haste de madeira e que integravam as hostes
senhoriais por medo de retaliações e de represálias. Alguns nobres recorriam
mesmo, o que constituía um claro abuso, às milícias concelhias das terras sobre as
quais detinham algum tipo de autoridade. E se uns a isso eram obrigados, outros
faziam-no de livre e espontânea vontade, acompanhando de forma voluntária as
hostes régias e senhoriais, muitas vezes porque tinham relações de parentesco
ou de amizade com o comandante da força que integravam. Outros faziam-no
ainda porque viam aí uma oportunidade de demonstrar o seu valor guerreiro
e, com sorte, poderem ingressar na vassalidade de algum senhor poderoso, ou
mesmo do próprio rei e, desse modo, assegurarem a obtenção de um rendimento
fixo que, com sorte, lhes permitisse algum desafogo económico. Era também
comum os nobres recorrerem a criminosos e marginais para engrossarem as
suas mesnadas, como veremos mais à frente. Ora, face a estes dados, é fácil
imaginar que, em alguns casos, as mesnadas nobres seriam consideravelmente
numerosas e que, em determinadas situações, podiam chegar a várias centenas
de efetivos, entre peões e cavaleiros .
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Seguramente não existiria qualquer limite máximo para o número de
combatentes com que os nobres se apresentavam em campanha. Este limite
38 MARTINS, 2014, pp. 57-58.
39 MONTEIRO, 1998, p. 100, n. 41.
40 MARTINS, 2014, pp. 59-72.
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