Page 71 - recrutamento
P. 71

2. O Recrutamento Militar Entre o Final
                  da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)

               esperar  um  contributo  militar  substancial:  contingentes  numerosos,  bem
               armados e convenientemente montados. Mas eram os infantes que, no quadro
               da vassalagem régia, auferiam montantes mais avultados. Veja-se o caso de D.
               Afonso, filho de D. Dinis, que atribuiu ao seu filho D. Pedro uma contia que, de
               início, rondava as 5000 libras, mas que rapidamente ascendeu a 24.000 libras .
                                                                                    38
               Contudo, grande parte dos membros da nobreza ficava-se por remunerações
               que, em média, não ultrapassavam as 1500 libras 39
                     Para formar as suas mesnadas, os vassalos do rei – tal como muitos outros
               nobres – lançavam mão, em primeiro lugar, dos membros da sua entourage e,
               entre estes, os primeiros a ser convocados eram, naturalmente, os seus vassalos,
               os servidores que habitualmente os acompanhavam, bem como os indivíduos
               que residiam e trabalhavam nos seus senhorios e nas terras sobre as quais tinham
               jurisdição. Eram, assim, mobilizados – frequentemente de modo compulsivo –
               mesteirais, camponeses e pastores, por vezes armados com pouco mais que um
               chuço ou uma foice presa a uma haste de madeira e que integravam as hostes
               senhoriais por medo de retaliações e de represálias. Alguns nobres recorriam
               mesmo, o que constituía um claro abuso, às milícias concelhias das terras sobre as
               quais detinham algum tipo de autoridade. E se uns a isso eram obrigados, outros
               faziam-no de livre e espontânea vontade, acompanhando de forma voluntária as
               hostes régias e senhoriais, muitas vezes porque tinham relações de parentesco
               ou de amizade com o comandante da força que integravam. Outros faziam-no
               ainda porque viam aí uma oportunidade de demonstrar o seu valor guerreiro
               e, com sorte, poderem ingressar na vassalidade de algum senhor poderoso, ou
               mesmo do próprio rei e, desse modo, assegurarem a obtenção de um rendimento
               fixo que, com sorte, lhes permitisse algum desafogo económico. Era também
               comum os nobres recorrerem a criminosos e marginais para engrossarem as
               suas mesnadas, como veremos mais à frente. Ora, face a estes dados, é fácil
               imaginar que, em alguns casos, as mesnadas nobres seriam consideravelmente
               numerosas e que, em determinadas situações, podiam chegar a várias centenas
               de efetivos, entre peões e cavaleiros .
                                                40
                     Seguramente  não  existiria  qualquer  limite  máximo  para  o  número  de
               combatentes com que os nobres se apresentavam em campanha. Este limite



               38  MARTINS, 2014, pp. 57-58.
               39  MONTEIRO, 1998, p. 100, n. 41.
               40  MARTINS, 2014, pp. 59-72.
                                                                                   59
   66   67   68   69   70   71   72   73   74   75   76