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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
                  da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)

               régios era obrigado a apresentar. Mas com os cofres da Coroa esgotados por
               anos consecutivos de guerra – ao longo dos quais, ainda para mais, o rei fez
               um grande número de vassalos a quem não atribuiu contia e aos quais foi
               pagando soldos quando e conforme podia –, esta forma de recrutamento e
               de remuneração tornava-se financeiramente incomportável, ao ponto de se
               verificarem constantes atrasos no pagamento a muitos vassalos. Daí a tentativa
               do monarca de começar a pagar as contias de 3 em 3 meses, uma intenção
               apresentada nas cortes de Coimbra de 1398 .
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                     Foi também por estes anos de finais de Trezentos, ou já em inícios de
               Quatrocentos,  que  D.  João  I,  preocupado  com  as  avultadas  despesas  que
               acarretava a manutenção de um grande número de vassalos – cuja importância
               tinha diminuído com o rumo favorável da guerra, que em 1393 estava praticamente
               resolvida –, voltou a dar mostras da sua intenção de reformular o modelo de
               recrutamento da nobreza, estabelecendo uma hordenança certa. Este projecto
               consistia em limitar em 500 o número de lanças fornecidas pelos seus principais
               vassalos, os “capitães” – que, ainda assim, seriam uns 160 –, mais 2360 lanças
               disponibilizadas  pelos  vassalos  que  se  apresentavam  individualmente,  isto  é,
               sem qualquer mesnada, a que se somavam 340 lanças fornecidas pelas ordens
               militares . Contudo, as fontes sugerem que o projeto não chegou nunca a ser
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               posto em prática, talvez porque isso acabaria por levar a que muitos vassalos
               régios se vissem, de um momento para o outro, privados de qualquer forma de
               remuneração.
                     Não será, pois, de estranhar que para a campanha de 1415 os vassalos
               régios  tenham  assegurado  cerca  de  5500  homens-de-armas,  uma  cifra
               largamente  superior  ao  estimado  na  hordenança  certa,  o  que,  por  um  lado,
               confirma que o projecto do rei não passou do papel e, por outro, que o número
               de vassalos régios não parou de crescer, mesmo depois da assinatura das pazes
               de Ayllón, em 1411.


                     o Recrutamento Concelhio
                     Substancialmente  agravada  com  o  final  da  Reconquista,  a  perda  de
               importância das milícias concelhias portuguesas era um fenómeno que vinha
               a  acentuar-se  desde  finais  do  século  XII.  Para  isso  contribuiu  o  afastamento

               49  MONTEIRO, 1998, pp. 40-41.
               50  MONTEIRO, 1998, pp. 41-42.
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