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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
                  da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)

               400 libras, menos 100 que na vizinha povoação de Arronches, onde Afonso IV
               elevara o valor de 400 para 500 libras ; e no Porto, até 1357, quem tivesse bens
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               avaliados em 1500 libras deveria ter cavalo e armas, um valor que, nessa data, o
               rei elevou para as 2000 libras .
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                     Ora  como  a  integração  num  determinado  grupo  socio-militar  era  uma
               decorrência da riqueza de cada indivíduo, é de supor a existência um mecanismo
               de avaliação dos seus bens e património. E de facto, as fontes disponíveis dão-nos
               a conhecer esse processo que, em traços gerais, recuperava o modelo que, antes
               do final da Reconquista, era usado para estabelecer a condição socio-militar dos
               vilãos. Ainda que, em função da dimensão da povoação, do número de homens
               a aquantiar e da disponibilidade de oficiais para o fazer, se verificassem algumas
               diferenças de local para local, de um modo geral as avaliações eram levadas a
               cabo numa área correspondente à jurisdição de um determinado concelho, por
               indivíduos dele oriundos e que, casa a casa, inventariavam detalhadamente os
               bens móveis e imóveis de todos os homens em idade adulta residentes nessa
               circunscrição. O facto de serem vizinhos do concelho onde actuavam tinha a
               vantagem de dar aos avaliadores um conhecimento mais profundo a respeito
               daqueles  cuja  fortuna  iam  apurar.  No  entanto,  essa  proximidade  também
               os deixava mais expostos às pressões que pudessem vir a ser exercidas pelos
               seus  conterrâneos,  muitos  dos  quais  seus  familiares,  amigos  ou  conhecidos,
               no  sentido  de  se  libertarem  do  pesado  ónus  que  constituía  o  conjunto  de
               despesas inerentes à aquisição e manutenção de cavalo e de armas. Por isso
               mesmo, para atenuar as possibilidades de isso acontecer, a avaliação era feita
               não por um, mas por vários indivíduos organizados em equipas. Estas eram,
               por norma, formadas por dois alvazis, que se faziam acompanhar por outros
               dois homens-bons do concelho, o que não só ajudava a agilizar o processo de
               aquantiamento, como permitia que se controlassem uns aos outros de modo a
               evitar que cometessem, propositada ou inadvertidamente, erros de avaliação.
               Estas equipas integravam ainda um tabelião, que não só assegurava que todo o
               processo decorria dentro da legalidade, como também registava os nomes de
               todos os indivíduos apurados – bem como outros elementos que ajudassem à
               sua identificação e fácil localização, tais como alcunhas, idade, estado civil e o
               local onde residiam –, o resultado da avaliação e a categoria em que passavam,


               59  Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, doc. 639, p. 297, de 1362, Maio, 10.
               60  Chancelarias Portuguesas: D. Pedro I, doc. 78, p. 40, de 1357, Agosto, 21.
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