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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
                  da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)

               Manter  um  número  fixo  de  besteiros  era  essencial  não  só  para  um  melhor
               planeamento  das  acções  militares  em  que  participavam,  mas  também  para
               evitar que se verificasse um excesso destes atiradores e, por consequência, de
               indivíduos abrangidos por privilégios fiscais e judiciais, algo que as autoridades
               municipais procuravam a todo o custo evitar.
                     A eficácia destes combatentes, que se vão autonomizando cada vez mais
               da restante peonagem – sinal disso é o facto de começarem a ter um comandante
               próprio, o anadel, documentado desde o reinado de Afonso II  –, terá sido, até
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               finais da centúria de Duzentos, posta à prova por diversas vezes no âmbito das
               acções armadas protagonizadas pela hoste régia, aliás, como se percebe pela lista
               – erradamente identificada por alguns autores como referindo-se aos besteiros
               do conto – dos “beesteyros que devem hyr a serviço dEl Rey”. Datável de finais
               do século XIII, este rol, que abrange apenas localidades situadas no centro de
               Portugal, indica-nos que Abrantes deveria contribuir para a hoste régia com 32
               atiradores, Tomar com outros tantos, Pombal com 21, tal como Torres Novas,
               Soure com 12, Ourém com 21, Porto de Mós com 10, Leiria com 40, Penela
               com 6, Miranda do Corvo com 4, Arouce com 12, Coimbra com 31, Montemor-
               -o-Velho com 21, Alcanede com 15 e Santarém com 60 , o que totalizava o
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               número considerável de 338 combatentes armados com a mais letal das armas
               então utilizadas. Esta tendência para a utilização de besteiros em detrimento
               de outras forças de infantaria provenientes dos concelhos observa-se também,
               por  exemplo,  na  composição  do  contingente  mobilizado  em  Lisboa  para  a
               campanha de 1298, realizada no âmbito da intervenção portuguesa na guerra
               civil castelhana . Parece, portanto, seguro que a Coroa, pelo menos no reinado
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               de D. Dinis, recorria com alguma frequência a esses milicianos como forma de
               aumentar a capacidade de tiro da hoste régia. Talvez essas experiências tenham
               demonstrado  ao  Rei Lavrador    est  contingent      utiliz
                 c    efic    proveit      f  atribuíd    enquadrament
               leg  pr  qu    converte    c  milit  numericament  estáv  c
               quantitativ  previament  de    adestrado  c

               70  Chancelaria de D. Afonso III. Ed. de Leontina Ventura e António Resende de Oliveira. Livro 1,
               Vol. I. Coimbra: Imprensa da Universidade, 2006., doc. 266, p. 289, de [1211-1223], Outubro, 1.
               71  MARQUES, A. H. de Oliveira – A população portuguesa nos fins do século XIII. In Ensaios de
               História Medieval Portuguesa (2ª edição). Lisboa: Vega, pp. 51-92, 1980, doc. 1, p. 75, de finais
               do século XIII.
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                 Documentos Para a História da Cidade de Lisboa: Livro I de Místicos de Reis…, doc. 6, pp. 113-
               -114, de 1298, Novembro, 17.
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