Page 86 - recrutamento
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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
restantes forças concelhias não eram mobilizadas. Esta obrigação era também
extensível às operações navais, nas quais os besteiros do conto participavam
integrando as guarnições dos navios. Se bem que as fontes sejam omissas a esse
respeito, é também possível que tivessem o dever de apresentar, para além da
besta, um número mínimo de virotões, que deveria rondar entre os 60 e os 120.
Entre os encargos dos besteiros do conto destacava-se ainda a participação nos
treinos militares que semanalmente eram realizados, por norma, aos domingos
para que não interferissem nas suas actividades laborais . Nesses exercícios
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designados genericamente como “tirar – ou jogar – à barreira” besteir
deveriam praticar, para além do tiro, as operações de “fazer visa ou madraço
ou fechar beesta ou enouviolar ou fazer corda ou sobrecorda” , manobras cujo
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significado exacto nos escapa, mas que teriam, muito provavelmente, que ver
com o carregamento da arma, com a utilização correcta do ponto de mira e com
a substituição das cordas da besta, tudo sobre a vigilância atenta do comandante
de cada contingente local, o anadel . Por tudo isto eram recompensados,
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para além dos privilégios atrás referidos, com o pagamento de estipêndios
de campanha. Por exemplo, os besteiros cujos privilégios seguiam o “modelo
de Serpa” auferiam um soldo, pago pelo rei, proporcional aos dias de serviço
contados a partir do momento em que chegassem ao local para onde haviam sido
convocados . Quanto aos que se regulavam por cartas de privilégios inspiradas
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no “modelo de Guimarães”, só recebiam o soldo respectivo, pago também
pelo rei, após seis semanas de serviço a expensas do concelho, um modelo de
remuneração que se generalizou durante o reinado de D. Pedro I , mas que,
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progressivamente, caiu em desuso ao longo dos últimos anos da centúria de
Trezentos, substituída pelo pagamento no início da campanha .
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Segundo as instruções enviadas pelo rei, em inícios do século XV, ao seu
anadel-mor – oficial responsável por todos os besteiros do conto e respectivos
anadéis –, o recrutamento desses atiradores deveria fazer-se preferencialmente
entre os “homeẽs mancebos, e de mesteres, assy como çapateiros, alfayates,
78 MARTINS, 2014, pp. 147-148.
79 FERREIRA, Leandro Ribeiro – De Homens Comuns a Força de Elite: os Besteiros do Conto em
Portugal na Idade Média (1385-1438) Port F Letr Univer Port
(Dissertaç Mestrado polic Março 2.
80 MAR 148-149.
81 Pregos 7.
82 MAR 149.
83 MONTEIRO 60.
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