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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            restantes forças concelhias não eram mobilizadas. Esta obrigação era também
            extensível às operações navais, nas quais os besteiros do conto participavam
            integrando as guarnições dos navios. Se bem que as fontes sejam omissas a esse
            respeito, é também possível que tivessem o dever de apresentar, para além da
            besta, um número mínimo de virotões, que deveria rondar entre os 60 e os 120.
            Entre os encargos dos besteiros do conto destacava-se ainda a participação nos
            treinos militares que semanalmente eram realizados, por norma, aos domingos
            para  que  não  interferissem  nas  suas  actividades  laborais .  Nesses  exercícios
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            designados genericamente como “tirar – ou jogar  –  à barreira”    besteir
            deveriam praticar, para além do tiro, as operações de “fazer visa ou madraço
            ou fechar beesta ou enouviolar ou fazer corda ou sobrecorda” , manobras cujo
                                                                    79
            significado exacto nos escapa, mas que teriam, muito provavelmente, que ver
            com o carregamento da arma, com a utilização correcta do ponto de mira e com
            a substituição das cordas da besta, tudo sobre a vigilância atenta do comandante
            de  cada  contingente  local,  o  anadel .  Por  tudo  isto  eram  recompensados,
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            para  além  dos  privilégios  atrás  referidos,  com  o  pagamento  de  estipêndios
            de campanha. Por exemplo, os besteiros cujos privilégios seguiam o “modelo
            de Serpa” auferiam um soldo, pago pelo rei, proporcional aos dias de serviço
            contados a partir do momento em que chegassem ao local para onde haviam sido
            convocados . Quanto aos que se regulavam por cartas de privilégios inspiradas
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            no  “modelo  de  Guimarães”,  só  recebiam  o  soldo  respectivo,  pago  também
            pelo rei, após seis semanas de serviço a expensas do concelho, um modelo de
            remuneração que se generalizou durante o reinado de D. Pedro I , mas que,
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            progressivamente, caiu em desuso ao longo dos últimos anos da centúria de
            Trezentos, substituída pelo pagamento no início da campanha .
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                  Segundo as instruções enviadas pelo rei, em inícios do século XV, ao seu
            anadel-mor – oficial responsável por todos os besteiros do conto e respectivos
            anadéis –, o recrutamento desses atiradores deveria fazer-se preferencialmente
            entre os “homeẽs mancebos, e de mesteres, assy como çapateiros, alfayates,

            78  MARTINS, 2014, pp. 147-148.
            79  FERREIRA, Leandro Ribeiro – De Homens Comuns a Força de Elite: os Besteiros do Conto em
            Portugal na Idade Média (1385-1438)  Port  F    Letr    Univer    Port
            (Dissertaç    Mestrado  polic                Março  2.
            80   MAR      148-149.
            81       Pregos                7.
            82   MAR      149.
            83   MONTEIRO      60.
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