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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            que lhes estavam atribuídos e que, em alguns casos, se equiparavam aos dos
            cavaleiros  convertiam  o  ingresso  na  milícia  num  objectivo  particularmente
            aliciante.  Não  admira,  pois,  que  muitos  indivíduos  com  fortuna  para  serem
            aquantiados como cavaleiros, tentassem, por todos os meios – nomeadamente
            subornando o anadel –, ser recrutados como besteiros do conto, uma condição
            que, para além das regalias que conferia, os poupava ainda às avultadas despesas
            inerentes à aquisição e manutenção de cavalo e armas .
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                  Porém se até finais do século XIV pertencer à milícia dos besteiros do conto
            era algo que muitos ambicionavam, a partir de então, poucos eram os que nela
            desejavam servir. Na verdade, com um clima de guerra quase permanente, no
            qual os besteiros do conto estavam na linha da frente da mobilização – e por isso
            mais sujeitos a riscos –, os privilégios deixavam já de compensar. Além do mais, a
            rigorosa fiscalização a que, compreensivelmente, estavam sujeitos – que se acentua
            com a nomeação régia dos anadéis, cada vez mais frequente a partir do reinado
            de D. João I –, limitava em muito a margem de manobra desses homens para
            se escaparem às suas obrigações, o que, somado à redução dos seus privilégios,
            sobretudo após o final da guerra com Castela, quando o seu contributo deixou
            de ter a importância que até aí tinha, converteram o serviço na milícia num fardo
            pesado que poucos estavam interessados em suportar . Face a esse desinteresse
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            crescente, por um lado, e pressionada pelo despovoamento, por outro, a própria
            Coroa  começou  também  a  revelar  alguma  falta  de  empenho  relativamente  à
            milícia, como se deduz pela redução da dimensão de alguns contos, como sucedeu
            em Lisboa em 1436 onde, por iniciativa de D. Duarte se operou uma diminuição de
            300 para 250 besteiros do conto , cortes que, por vezes, atingiram valores muito
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            expressivos, a ordem dos 50%, como sucedeu em Braga em 1462 .
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                  Ainda assim, o balanço geral é o de um inegável sucesso, observável desde
            logo na expansão territorial deste corpo de elite e no crescimento do número
            de efectivos que o compunham. De facto, enquanto no final do reinado de D.
            Dinis estão documentadas 17 anadelarias, as fontes atestam 29 no reinado de
            Afonso IV, 43 no reinado de D. Pedro I e 64 no de D. Fernando. A milícia dos
            besteiros do conto parece ter atingido o seu expoente máximo em 1421-1422,


            89  FERREIRA, 1988, doc. 1, p. 201, de 1348, Março, 2.
            90  MONTEIRO, 1998, pp. 67-71.
            91  MARTINS, Miguel Gomes – Lisboa e a Guerra (1367-1411). Lisboa: Livros Horizonte, 2001, p. 36.
            92  MORENO, Humberto Baquero – Elementos para o estudo dos coutos de homiziados instituídos
            pela Coroa. In Os Municípios Portugueses nos Séculos XIII a XVI. Lisboa: Presença,1992, p. 66.
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