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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
                  da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)

               altura em que estão documentadas 300 anadelarias, de onde seria proveniente
               um total de 5000 efetivos . Mas o seu sucesso pode ser igualmente aferido
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               pelo facto de o seu modelo organizativo ter servido como inspiração – tal como
               foi também usado, mais tarde, na segunda metade do século XV, para fundar a
               milícia dos Espingardeiros do Conto  – para a criação, em finais de Trezentos,
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               dos Besteiros de Cavalo.


                     Besteiros de Cavalo
                     Assim como os besteiros do conto constituíam um grupo autónomo e
               distinto dos aquantiados em besta, também os besteiros de cavalo se afirmaram,
               desde o momento da sua fundação, no reinado de D. João I, como um grupo
               socio-militar à parte e dotado de um enquadramento legal próprio .
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                     Criado, segundo João Gouveia Monteiro, em 1392 – data da nomeação de
               Álvaro Anes de Cernache para o comando desta milícia –, trata-se de um corpo,
               numericamente limitado, pelo menos em 1449, a 500 indivíduos armados de
               besta, montados em cavalo e elevados à condição de vassalos régios. Os seus
               membros  eram  recrutados  entre  os  mesteirais,  registando-se,  por  exemplo,
               alfaiates, tanoeiros, barbeiros, carpinteiros, pedreiros, ferradores, carniceiros e
               sapateiros, entre outros, o que sugere que seriam indivíduos cuja fortuna não
               bastava  para  serem  aquantiados  como  cavaleiros.  A  organização  desta  nova
               milícia parece ter sido inspirada no bem-sucedido modelo de organização dos
               besteiros do conto, algo que se percebe pelo facto de ter uma estrutura de
               comando própria, de os seus membros serem escolhidos – através de exames
               de perícia com a besta e, certamente, com o cavalo – e mobilizados em unidades
               de  recrutamento  próprias,  de  estarem  sujeitos  a  quantitativos  previamente
               estabelecidos pela Coroa e por usufruírem de privilégios especiais , alguns dos
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               quais, após a morte do besteiro, transitavam para as suas viúvas .
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               93  MARTINS, Miguel Gomes – Los Ballesteros de Conto en Portugal en la Edad Media. Medievalismo,
               nº 18 (2008), 2008, p. 387; e FERREIRA, 2015, p. 65.
               94  SEBASTIÃO,  Pedro  Filipe  Fernandes  –  Os Espingardeiros. Um Corpo Militar no Alvor da
               Modernidade (1437-1495). Dissertação de Mestrado (Policopiada). Coimbra: Faculdade de Letras
               da Universidade de Coimbra, 2018, p. 56 e ss.
               95  Chancelarias Portuguesas: D. João I. Vol. 2. Lisboa: Centro de Estudos Históricos, 2004-2006,
               doc. 846, p. 133, de 1394, Agosto, 7.
               96  MONTEIRO, 1998, pp. 72-75.
               97  Chancelarias  Portuguesas:  D.  Duarte.  Vol.  1.  Ed.  preparada  por  João  José  Alves  Dias:  Lisboa,
               Centro de Estudos Históricos – FCSH – UNL, 1998-2002, doc. 71, pp. 55-56, de 1433, Novembro, 17.
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