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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
Tudo indica que, para a campanha de Ceuta, em 1415, D. João I voltou
a recorrer aos homiziados para engrossar a sua hoste , uma solução utilizada
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igualmente por D. Duarte aquando da fracassada tentativa de conquista de
Tânger, em 1437 . Aliás, uma parte substancial dos homens que, ao longo dos
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anos, integraram as guarnições das praças-fortes portuguesas no Norte de África,
designadamente em Ceuta, era composta por criminosos que, em troca desse
serviço, que se estendia durante períodos de tempo variáveis consoante o delito
– 10 anos em alguns casos de homicídio –, eram perdoados pelos crimes que
haviam cometido. Aliás, importa recordar que o recurso, por parte da Coroa, ao
contributo militar dos homiziados, começou precisamente pela sua distribuição
por praças-fortes situadas junto da fronteira e onde, pelos riscos constantes a
que estavam expostas, o despovoamento estivesse a pôr em xeque a sua defesa.
E o primeiro caso conhecido, bastante precoce, reconheça-se, é o da fortaleza
alentejana de Noudar que, em 1308, foi convertida por D. Dinis no primeiro couto
de homiziados instituído pela Coroa. Seguiram-se-lhe muitos outros fundados
nos reinados de D. Fernando (4), e de D. João I (18), praticamente todos ao longo
da faixa raiana .
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castelo e cerca de noudar 111
108 MONTEIRO, 1998, p. 89.
109 DUARTE, Luís Miguel – Justiça e Criminalidade no Portugal Medievo (1495-1481). Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian / FCT, 1999, p. 479.
110 MORENO, 1986, pp. 101-118.
https://www.portugalnummapa.com/castelo-de-noudar/
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