Page 96 - recrutamento
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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

                  Desde meados do século XIV, pelo menos, que o comando da guarda do
            rei  se  encontrava  entregue  a  um  “guarda-mor”  nomeado  directamente  pelo
            monarca e escolhido entre os indivíduos em quem mais confiava. O primeiro
            de  que  temos  conhecimento  é  João  Lourenço  Buval  que,  tudo  o  indica,  se
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            manteve no cargo de forma ininterrupta entre em 1360 e 1370 . Desconhece-
            -se, no entanto, se a cadeia de comando desta guarda se limitava a este oficial
            ou se, como parece fazer mais sentido, obedecia a uma estrutura interna mais
            hierarquizada como acontecia, por exemplo, em Castela onde, em meados da
            centúria de Trezentos, para além do comandante da guarda – o guarda-mor do
            corpo do rei – existia ainda o comandante dos escudeiros do corpo do rei .
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                  Mas se as fontes deixam perceber, se bem que de forma nem sempre
            muito explícita, algumas das principais características desta guarda, bastante
            mais difícil é encontrar vestígios concretos do seu desempenho e da participação
            nas campanhas militares. Todavia, tendo em linha de conta que a sua principal
            missão era acompanhar o rei protegendo-o diariamente, é possível imaginar a
            presença destas forças, como no caso da campanha de Aljubarrota, em todas as
            acções armadas que contaram com a participação pessoal do monarca.


                  as ordens Militares
                  Para finalizar, lançaremos um breve olhar para o caso das ordens militares,
            cujos modelos de recrutamento e mobilização pouco ou nada se alteraram entre
            os finais da Reconquista e o dealbar da centúria de Quatrocentos.
                  De facto, assim como a Ordem do Hospital continuou a ter na nobreza a
            sua principal fonte de alistamento de freires-cavaleiros, também as ordens de
            Santiago e de Avis, mantiveram as elites concelhias e a pequena nobreza como
            o seu principal recurso no que ao recrutamento desses freires diz respeito.
            Trata-se de uma situação em tudo semelhante à que se verificava na Ordem
            do Templo, cujos membros eram provenientes, segundo Paula Pinto Costa, de
            “sectores aristocráticos mais modestos” e da cavalaria vilã, características que
            parecem ter sido herdadas pela sua sucessora, a Ordem de Cristo, fundada
            em 1319 .
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               MONTEIRO, 1998, p. 29.
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            123  MARTINS, 2014, p. 214.
               COSTA,  Paula  Pinto  –  Templários  em  Portugal.  Homens  de  Religião  e  de  Guerra.  Lisboa:
            124
            Manuscrito, 2019, pp. 128-129.
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