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RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            ordens militares se empenhassem em manter a operacionalidade, número e
            qualidade dos combatentes assim mobilizados, ao ponto de se envolverem no
            seu processo de aquantiamento, mesmo quando o faziam de forma abusiva. E
            seriam também, tudo o indica, particularmente rigorosas e exigentes a respeito
            do cumprimento das obrigações dos milicianos, nomeadamente da qualidade
            e  bom-estado  dos  seus  cavalos  e  armas  –  aliás,  tal  como  o  eram  acerca  do
            equipamento e das montadas dos seus freires-cavaleiros  –, uma situação que
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            em nada agradava aos municípios em causa e, naturalmente, aos seus milicianos,
            como se percebe pelas queixas que, sobre essa matéria e em diversas ocasiões,
            foram apresentadas ao rei .
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                  Em  campanha,  em  especial  nas  acções  de  natureza  ofensiva,  parece
            também  ter  sido  habitual  a  associação  entre  as  ordens  militares  e  alguns
            nobres,  nomeadamente  os  vassalos  dos  freires  e,  em  particular,  os  dos
            principais dignitários das ordens, que muitas vezes o faziam acompanhados
            pelas suas mesnadas. É igualmente possível que, por vezes, estas instituições
            recorressem ao contributo dos homens que residiam nos coutos de homiziados
            existentes  nos  seus  senhorios,  como  nos  de  Noudar,  Juromenha,  Mértola,
            Segura e Penha Garcia .
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                  Só à luz da conjugação de todos estes contributos e da dimensão dos
            contingentes  assim  reunidos  se  percebe,  por  exemplo,  a  presença  de  uma
            grande quantidade de armas defensivas e ofensivas nos arsenais dos castelos
            de  Castro  Marim  (Ordem  de  Cristo),  Noudar,  Veiros,  Juromenha  e  Alandroal
            (Avis), que não seriam apenas destinadas aos freires cavaleiros, mas para serem
            disponibilizadas, em caso de necessidade, a todos os que, independentemente
            da sua origem, se associassem aos contingentes das ordens militares .
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                  Face a estes dados e como sugerimos já num outro estudo, “talvez não
            estejamos muito longe da realidade se imaginarmos que, numa hoste reunida
            por  uma  determinada  ordem  militar,  só  uma  escassa  percentagem  de  10  a
            20% seria formada por freires cavaleiros, com os restantes efectivos a serem


            129  MONTEIRO, 1998, p. 80.
            130  Chancelarias Portuguesas: D. Afonso IV , Vol. 2, doc. 105, pp. 199-200, de 1337, Julho, 21, por
            exemplo.
               MARTINS, 2018, pp. 329-330.
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               MARTINS, Miguel Gomes – Armas e cavalos: os arsenais e as coudelarias das Ordens Militares
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            em  Portugal  na  Idade  Média.  In  FERNANDES,  Isabel  Cristina  (Coord)  –  Castelos das Ordens
            Militares  V      DGPC      413-415.
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