Page 98 - recrutamento
P. 98
RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi
ordens militares se empenhassem em manter a operacionalidade, número e
qualidade dos combatentes assim mobilizados, ao ponto de se envolverem no
seu processo de aquantiamento, mesmo quando o faziam de forma abusiva. E
seriam também, tudo o indica, particularmente rigorosas e exigentes a respeito
do cumprimento das obrigações dos milicianos, nomeadamente da qualidade
e bom-estado dos seus cavalos e armas – aliás, tal como o eram acerca do
equipamento e das montadas dos seus freires-cavaleiros –, uma situação que
129
em nada agradava aos municípios em causa e, naturalmente, aos seus milicianos,
como se percebe pelas queixas que, sobre essa matéria e em diversas ocasiões,
foram apresentadas ao rei .
130
Em campanha, em especial nas acções de natureza ofensiva, parece
também ter sido habitual a associação entre as ordens militares e alguns
nobres, nomeadamente os vassalos dos freires e, em particular, os dos
principais dignitários das ordens, que muitas vezes o faziam acompanhados
pelas suas mesnadas. É igualmente possível que, por vezes, estas instituições
recorressem ao contributo dos homens que residiam nos coutos de homiziados
existentes nos seus senhorios, como nos de Noudar, Juromenha, Mértola,
Segura e Penha Garcia .
131
Só à luz da conjugação de todos estes contributos e da dimensão dos
contingentes assim reunidos se percebe, por exemplo, a presença de uma
grande quantidade de armas defensivas e ofensivas nos arsenais dos castelos
de Castro Marim (Ordem de Cristo), Noudar, Veiros, Juromenha e Alandroal
(Avis), que não seriam apenas destinadas aos freires cavaleiros, mas para serem
disponibilizadas, em caso de necessidade, a todos os que, independentemente
da sua origem, se associassem aos contingentes das ordens militares .
132
Face a estes dados e como sugerimos já num outro estudo, “talvez não
estejamos muito longe da realidade se imaginarmos que, numa hoste reunida
por uma determinada ordem militar, só uma escassa percentagem de 10 a
20% seria formada por freires cavaleiros, com os restantes efectivos a serem
129 MONTEIRO, 1998, p. 80.
130 Chancelarias Portuguesas: D. Afonso IV , Vol. 2, doc. 105, pp. 199-200, de 1337, Julho, 21, por
exemplo.
MARTINS, 2018, pp. 329-330.
131
MARTINS, Miguel Gomes – Armas e cavalos: os arsenais e as coudelarias das Ordens Militares
132
em Portugal na Idade Média. In FERNANDES, Isabel Cristina (Coord) – Castelos das Ordens
Militares V DGPC 413-415.
86