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2. O Recrutamento Militar Entre o Final
                  da Reconquista e as Vésperas de Ceuta (1249-1415)

                     Outro  dos  traços  que  as  ordens  militares  mantiveram  praticamente
               inalterado após o final da Reconquista foi o reduzido número de freires cavaleiros
               que as integravam, um cenário que não era exclusivo da realidade portuguesa
               e que decorria da riqueza de cada uma dessas instituições, em particular dos
               rendimentos que obtinham com a exploração do seu património . Com efeito,
                                                                         125
               durante a primeira metade do século XIV, a Ordem de Avis contabilizava apenas
               uma meia centena desses freires – talvez tantos quantos os que integravam a
               Ordem do Hospital –; a ordem de Santiago, por seu lado, somaria perto de 60;
               enquanto as cifras mais volumosas eram apresentadas pela Ordem de Cristo,
               com cerca de 70 indivíduos. São números que, apesar de algum crescimento,
               pouco  se  modificaram  até  inícios  do  século  XV,  como  se  infere  da  já  atrás
               referida  hordenança  certa,  elaborada  no  reinado  de  D.  João  I.  E  ainda  que
               não tenha nunca sido posta em prática, esta normativa previa um contributo
               de 100 lanças de cavalaria por parte da Ordem de Cristo e outras tantas pela
               Ordem de Santiago, 80 pela Ordem de Avis, enquanto da Ordem do Hospital
               se esperava que disponibilizasse apenas 60 . Parece-nos, no entanto, que só
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               muito dificilmente as ordens militares conseguiriam, unicamente com base nos
               seus freires cavaleiros, atingir as cifras propostas pelo rei, desde logo porque isso
               poderia levar ao desguarnecimento de muitas das fortalezas tuteladas por estas
               instituições, onde uma boa parte dos seus efectivos se encontrava estacionada .
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                     Para engrossarem as hostes que conduziam para campanha seria, pois,
               essencial recorrer a outras forças, nomeadamente, pelo número de combatentes
               que, assim, podiam ser convocados, às milícias dos concelhos das localidades
               integradas  nos  seus  senhorios.  Aliás,  desde  cedo  que  estas  instituições
               perceberam  a  importância  desse  contributo,  motivo  pelo  qual  atribuíram
               quase sempre cartas de foral que seguiam o modelo de Évora, de 1166, que
               determinava  a  participação  de  dois  terços  dos  cavaleiros  dos  concelhos  nas
               operações  militares  de  natureza  ofensiva .  Não  admira,  portanto,  que  as
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               125  JOSSERAND, Philippe – Un corps d´armée spécialisé au service de la Reconquête: les ordres
               militaires  dans  le  royaume  de  Castille  (1252-1369).  Bulletin  de  la  Société  Archéologique  et
               Historique de Nantes et de Loire-Atlantique, Tomo 137, pp. 194-198; e GARCÍA FITZ, 1994, pp.
               168-169.
               126  MARTINS,  Miguel  Gomes  –  As  hostes  das  ordens  militares  em  Portugal  entre  os  finais  da
               Reconquista e inícios do Século XV – Composição e Dimensão. In FERNANDES de Isabel Cristina
               (coord)  – Entre Deus e o Rei. O Mundo das Ordens Militares  V    P  GE    Câmar
                   P      323-324.
               127   MONTEIRO      83.
               128   MAR      194.
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