Page 100 - recrutamento
P. 100

RecRutamento no exéRcito PoRtuguês – do condado Portucalense ao século xxi

            1382, quando se preparava para enfrentar Juan I de Castela em batalha campal
            nas margens do rio Caia, D. Fernando tinha consigo uma hoste composta por
            4500 lanças – 1.500 das quais comandadas pelo conde de Cambridge – a que
            se somavam 1500 arqueiros ingleses e um número de besteiros e peões que
            as fontes não mencionam, mas que seguramente suplantaria o das forças de
            cavalaria. Uma hoste de grandes dimensões, mas ainda assim – em boa medida
            porque  o  reino  continuava  muito  dividido  quanto  às  suas  fidelidades  –  não
            tão numerosa quanto as que viria a mobilizar noutras ocasiões, foi a que D.
            João I congregou para a campanha de Aljubarrota, em 1385, e que totalizava
            6500 combatentes, aos quais se acrescentava uma multidão de auxiliares, o
            que deveria perfazer um total de 10.000 a 12.000 homens. O desfecho desta
            batalha  terá  levado  a  que  muitos  indecisos  e  ex-apoiantes  de  Juan  I  e  D.
            Beatriz se tenham colocado ao lado de D. João I, o que permitiu ao fundador
            da dinastia de Avis, aquando da ofensiva anglo-portuguesa contra Castela, em
            1387, congregar um efectivo consideravelmente mais substancial na ordem das
            3000 lanças, 2000 besteiros e 4000 peões , cifras muito próximas das que,
                                                   135
            um ano antes, foram contabilizadas no alardo da Valariça – que antecedeu a
            campanha de 1386, que terminou com o cerco a Coria –, como sugerem as
            4500 lanças então reunidas e às quais se somavam, segundo Fernão Lopes,
            “muitos homeens de pee e muita besteria” .
                                                   136
                  E ainda que nos exércitos reunidos quer por D. Fernando, quer por D.
            João I se observe, relativamente aos três reinados anteriores, um acréscimo no
            número de efectivos, o que se também se observa é que esse aumento não
            foi assim tão substancial, muito provavelmente porque, na prática, não havia
            forma de reunir hostes mais numerosas. E ainda que a Coroa tivesse, em teoria
            e  em  circunstâncias  ideais,  capacidade  para  mobilizar,  de  acordo  com  João
            Gouveia Monteiro, entre os 14.000 e os 20.000 homens , na prática tal nunca
                                                              137
            se verificou ao longo do período em análise. Os motivos parecem-nos fáceis de
            encontrar, por exemplo, nas dificuldades logísticas que acarretava a mobilização
            de um grande número de combatentes, no esforço financeiro que isso exigia à
            Coroa – e aos povos, sobre quem, de uma maneira ou de outra, esses encargos
            acabavam por recair –, ou na disponibilidade ou vontade daqueles que eram
            mobilizados  em  cumprir  as  suas  obrigações  militares.  Além  disso,  sobretudo

            135  MONTEIRO, 1998, pp. 92-93.
            136  Crónica de D. João I , Vol. 2, Cap. LXX, p. 177.
            137  MONTEIRO, 1998, p. 91.
              88
   95   96   97   98   99   100   101   102   103   104   105